O "ÍNDIO" E O ABONO FAMILIAR

Djalma Carvalho

Faz algum tempo que contei esta e outras histórias do “Índio”, famoso jogador de futebol do Ipanema, equipe pela qual se tornou tricampeão matuto de Alagoas nos anos de 1957 a 1959. Natural de Santana do Ipanema, Osvaldo Gomes da Silva tinha sua assinatura garatujada aposta com extrema dificuldade nas súmulas dos jogos oficiais. Não continha o “da Silva”, porque alegava “problema de vista curta”. O “Gomes”, por sua vez, mais parecia o desenho de uma cruz.
Por essa época, eu trabalhava no escritório do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, em Santana do Ipanema, cuja residência regional era chefiada por Sebastião Pereira Bastos, respeitosamente tratado por Seu Bastos.
A história de hoje tem algo a ver com Bolsa Família, Bolsa Escola, Salário-Educação, Bolsa Alimentação, Salário-Família e outros. O Abono Familiar, por exemplo, instituído por Getúlio Vargas em 1941, destinado a famílias numerosas, é inspirador dessa gama de programas sociais criados pelo Governo Federal.
O Bolsa Família tem sido criticado como programa eleitoreiro e de incentivo à malandragem e à preguiça, mas acredito que tem aplacado a fome de muita gente, sobretudo no Nordeste. Como se sabe, o benefício é destinado a famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, em cujo núcleo haja gestantes, nutrizes, crianças e adolescentes.
Diferentemente do Bolsa Família, que estabelece limites para sua concessão, tanto o Abono Familiar quanto o Salário-Família, nos termos em que foram concebidos, hoje estariam na contramão dos programas de controle da natalidade difundidos no País.
Seu Bastos era apaixonado por futebol. Tanto que, para formar a equipe tricampeã, mandara buscar, fora do estado, bons jogadores e os empregara no Dnocs. O “Índio”, que jogara em grandes equipes do Nordeste, também fora contratado. Passou a trabalhar nas oficinas, onde costumava formar roda de colegas de trabalho em torno de si, divertindo a todos. Ri à vontade com suas piadas espirituosas e com suas histórias engraçadas, cujo repertório era inesgotável. Pintava o sete nas excursões, concentrações, hotéis e vestiários.
O Presidente Juscelino Kubitschek andou reajustando, substancialmente, o valor do Abono Familiar, hoje Salário-Família. O operário que tivesse cerca de dez filhos poderia até dobrar sua remuneração mensal, ainda que o benefício não tivesse essa finalidade. Em razão dessa auspiciosa notícia, o “Índio” passou a incentivar sua pobre mulher a ter mais filhos, segundo contava, para também aumentar sua remuneração mensal. E tanto entusiasmara a mulher que, ao chegar a sua casa, a companheira de luta já o recebia de calcinhas nas mãos...
Infelizmente, as trapaças do destino transformariam, tempos depois, a vida do “Índio” brincalhão em verdadeiro inferno. Absolvido do crime de morte que, involuntariamente, cometera, não pôde mais voltar ao convívio dos amigos e a trabalhar em paz em Alagoas. Veio a falecer no Recife, coitado, sem ter cumprido a promessa de aumento de sua prole.

Maceió, agosto de 2009.

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