Estar na pindaíba é estar alguém sem dinheiro, duro, na quebradeira, segundo Mestre Aurélio. Pindaíba e tempo de vacas magras são a mesma coisa, segundo qualquer estudante pobre morador de república, onde falta quase tudo e se vive limitado à famosa e salvadora mesada.
O cronista, por exemplo, viveu de perto esse problema. Residente em Santana do Ipanema, costumava hospedar-se, vez por outra, em meados da década de 50, na Casa do Estudante, então localizada na Rua Ladislau Neto, esquina com a Rua do Comércio, em Maceió. Ali conheceu a escassez de recursos que atormentava os diretores Ulisses Dantas e Tobias Granja. A Casa do Estudante, que bons serviços prestava à juventude alagoana daquela época, era mantida pela União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (Uesa) e vivia a depender de verbas e de favores do governo estadual. Ainda que na pindaíba, seus moradores eram alegres, divertidos e criativos. Tão criativos que, numa dessas rápidas estadas, me surripiaram um par de sandálias, tipo havaiana, novinho da silva. Nunca soube o nome do pilantra, autor da brincadeira.
Uma vez fechada a Casa do Estudante, jovens santanenses instalaram, nas décadas de 60 e 70, salvo engano, conhecida república no bairro da Ponta Grossa. Entre outros estudantes, a república abrigava Edvan Lima, Carlos Soares, Neca e os irmãos Mário Jorge e Márcio Santos. Além das mesadas, recebiam da família, com regularidade, carne de sol, doce, queijo e mais alguma coisa destinada à despensa. Mas tudo era consumido rapidamente, e a geladeira estava sempre vazia. Passavam, assim, boa parte do mês em regime de absoluto “rango”, tal a dificuldade financeira de cada um. Mês dessa contribuição dos pais ou responsáveis, por exemplo, é mais longo que outro mês qualquer. Novo suprimento de numerário, então, demora uma eternidade para chegar à mão de quem dele depende para estudar e sobreviver.
Um dia, um pacote, remetido de Santana do Ipanema, que continha doce e queijo, chegou à república e acabou sendo violado pelos que acabavam de acordar naquela bela manhã de verão. Ausente o destinatário, comeram a metade do doce e do queijo, e ainda rasuraram a carta que acompanhava o pacote.
À tarde, Carlos, ao ler a carinhosa missiva da família, assustou-se: “Puxa, minha mãe nunca me mandou meio doce, meio queijo! Estará ela passando alguma dificuldade?”
Aconteceu que os espertos colegas de república haviam praticado o “crime” e alterado, malandramente, o teor da carta. Onde havia “1 doce e 1 queijo”, eles acrescentaram uma barra e o número dois ao algarismo existente..
Daí, ½ doce e ½ queijo. Sem problema.
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