LITERATURA SANTANENSE II (EM CONTA-GOTAS)

Djalma Carvalho

Oscar Silva, de origem modesta, modestíssima, nasceu em 16 de janeiro de 1915, na antiga Rua do Sebo, hoje Rua Antônio Tavares, em Santana do Ipanema.
Nasceu de sete meses de gestação. Disse ele em crônica publicada em 17/01/1975, ao completar 60 anos de idade: “Não deveria, assim, viver 60 dias, quanto mais 60 anos. Mas, partindo do ventre que partia, aquele “traste”, que não quis esperar mais dois meses de incubação, já nascia teimoso.”
Era filho de Marcelino Pio da Silva (funileiro) e Vespertina Azevedo (professora da roça). Criado pela avó materna, Dona Josefa Azevedo ou Zefinha Azevedo, que também era funileira.
Foi marceneiro, tecelão, balconista de botequim, integrante da Polícia Militar de Alagoas que combateu Lampião, funcionário estadual, servidor da Empresa dos Correios e Telégrafos (ECT), político, em 1954, vereador pelo PTB, em Coronel Fabriciano, Minas Gerais; suplente de deputado estadual em Alagoas, em 1945 pelo PCB; preso em 1947 quando da cassação do registro desse partido; em 1967 foi um dos fundadores do antigo MDB de Toledo (PR), onde foi suplente de vereador pela mesma sigla; vice-presidente do PTB em Resplendor (MG); fundador do diretório municipal do PTB de Mantena (MG) em 1960 e eleito seu presidente; finalmente, funcionário do Ministério da Fazenda (coletor).
Autodidata. Intelectual de muitíssimo talento. Jornalista, escritor, cronista, contista, romancista, historiador. Oscar Silva foi o segundo escritor santanense a publicar livro. Sabia produzir textos rebuscados e escorreitos. Pena vibrante. Mestre na arte de escrever.
Sobre Oscar Silva, disse L. Lavenere: “Não imitou a linguagem de ninguém. Sua linguagem é, sem dúvida, regional, mas de gente que aprendeu a falar corretamente a língua portuguesa.”
Asas para o Pensamento (1945), seu primeiro livro publicado. Fruta de Palma – crônicas – (1953) e Águas do Panema – romance – (1968).

Ao escrever Fruta de Palma (1953), seu carro-chefe literário, lembrou Oscar Silva: “Este livro não é meu. Este livro é do povo do sertão nordestino, é do povo de Santana do Ipanema.”
Além desses livros, há outras obras publicadas: crônicas, romance, contos, ensaio, história, memória, teatro, conferência e teses. Homem culto, de admirável e ampla abrangência de produção da arte literária.
Publicou os seguintes trabalhos literários: O Conto e as Massas (tese de literatura) 1970; Semente de Paraíso (teatro) 1980; Toledo, a Terra e o Homem (projeto história) 1981; Cartilha de Toledo (projeto história) 1981; Toledo e seus Distritos (projeto história) 1986; e Toledo e sua História (projeto história) 1988.
Opinião da crítica literária, sobre Fruta de Palma:
Câmara Cascudo: “Não é possível outra impressão senão o agrado natural por este livro humano e simples, na sua riqueza expressiva de valores naturais.”
Eduardo Frieiro: “Livro de cenas sertanejas – obra de boa leitura, reveladora de positivas qualidades e que, de mais a mais, escreve em linguagem escorreita, coisa um tanto rara nas últimas safras de literatos.”
Deixou de publicar os seguintes trabalhos: Eu vi os pedaços de Lampião (memórias de um ex-PM de Alagoas), Presença de Toledo (resposta a Câmara Cascudo) e Coletânea de Artigos na Imprensa Toledana.
Oscar Silva também participou do movimento regionalista literário deflagrado em Alagoas a partir de 1948, junto com outros intelectuais residentes em Maceió, chamados “modernos” e “novos”, segundo escreveu Tadeu Rocha, seu conterrâneo e amigo, no prefácio de Fruta de Palma.
Considerava-se um nordestino teimoso, lutador, valente.
Costumava dizer com veemência: “Sou um desses nordestinos teimosos que muito se orgulham das pedras no caminho de sua origem proletária”.
Na orelha do seu livro Fruta de Palma, disse Oscar Silva: “Enveredando pela política, sua entrada só poderia ser a do lado esquerdo, esquerda esta que, além de algumas cadeias, lhe renderia sérios prejuízos na vida profissional.”
Homem de convicções políticas firmes e claras.
Seu livro O Cavaleiro da Esperança, por exemplo, publicado em 1946, teve sua edição, no ano seguinte, apreendida pela polícia do governador Silvestre Péricles de Góis Monteiro.
Oscar Silva era campeão de concursos.
Vejamos: 1º lugar no Concurso de Cabo PM (1933); 1º lugar no Curso de Candidato a Sargento (1935); 1º lugar no Concurso para Auxiliar de Tráfego dos Correios e Telégrafos (1940); habilitado na prova do Dasp, para Auxiliar de Escritório dos Correios e Telégrafos (1944); aprovado em dois Concursos do Dasp, para Postalista e Escriturário do Departamento dos Correios e Telégrafos (1945); aprovado no Concurso do Dasp (1950), para Escrivão de Coletoria Federal de Coronel Fabriciano(MG); e, finalmente, em novo Concurso do Dasp (1959), é nomeado Coletor Federal da cidade de Mantena (MG).
Nesse mesmo ano (1959) conquistou o 1º lugar no Concurso Nacional de Contos, promovido no Rio de Janeiro, pelo Ipase.
Nascido em Santana do Ipanema, Alagoas, Oscar Silva residiu, como se viu, nas cidades de Coronel Fabriciano, Resplendor e Mantena, Minas Gerais. Não obstante transferido para Cascavel (PR), instalou-se, finalmente, em Toledo (PR), em 1963, cidade por ele considerada “amor à primeira vista”. Amou tanto Toledo, que sua maior preocupação era a de morrer longe dela, pedido sempre renovado a sua esposa Gildanira e aos filhos Asdepíeades, Sócrates, Pitágoras, Júlia, Aristóteles, Astrogildo, Gildete, Gilsônia e Arquimedes.
Em 1969 foi posto em disponibilidade funcional no Serviço Público Federal, junto com mais de cinco mil colegas que tinham mais de 35 anos de serviço. Sobre o fato, dizia Oscar Silva: “Jogado no lixo da disponibilidade funcional como sucata.”
Oscar Silva é o patrono, com toda justiça, da Cadeira nº 27 da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Em julho e agosto de 1991, depois de assistir à festa da padroeira de Santana do Ipanema, fazer palestras no Rotary Clube Local, conceder entrevista em rádio, ir ao baile no Tênis Clube Santanense, visitar a igreja matriz da cidade, visitar bairros pobres, visitar a casa na qual nascera, reencontrar-se com amigos de infância e matar saudades na sentimental viagem derradeira, Oscar Silva despede-se de todos e viaja para a cidade de Toledo (PR), onde faleceu em 10 de setembro de 1991.

Maceió, junho de 2021.
Fontes de pesquisa:
1 - Escritora Maria do Socorro Farias Ricardo (Portal do Município de Toledo);
2 - Jornal Nova Geração, Toledo (PR); e
3 – Fruta de Palma, 2ª edição, 1990.

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