Para início de conversa, devo registrar um fato curioso e ao mesmo tempo auspicioso, em termos culturais, que vem acontecendo em Santana do Ipanema, de uns tempos para cá, quando se trata de literatura. Refiro-me ao elevado número de escritores da cidade com livros publicados.
Curiosamente, relacionando-os a partir de Breno Accioly, chega-se a um número em torno de cinquenta escritores. Diga-se de passagem: um belíssimo placar a ser comemorado!
Por isso que Maria do Socorro Ricardo, escritora conterrânea, chamou, orgulhosamente, Santana do Ipanema de Terra de Escritores.
Quando do lançamento, na cidade, do meu livro Lua, Vento e Ventania, em 20 de janeiro de 2018, Dra. Maria de Lourdes do Nascimento, pesquisadora alagoana, escritora e poetisa, ao tomar conhecimento desse auspicioso fato literário, propôs-se a investigar os motivos dessa avalanche de escritores, desse especial desempenho da cultura santanense.
Com esta conversa denominada Literatura Santanense (em conta-gotas), começo a pretensa série por Breno Accioly, genial contista alagoano do passado e consagrado pela crítica literária brasileira. Neste ano de 2021, por exemplo, a diretoria da Academia Santanense de Letras, por decisão dos seus membros, presta significativa homenagem, com palestras, lançamento de livros e artigos publicados, a esse ícone da literatura santanense, ao ensejo do centenário do seu nascimento.
Nascido em 22 de março de 1921, em Santana do Ipanema, Breno Accioly era filho do primeiro juiz de direito da cidade, depois desembargador, Dr. Manoel Xavier Acioly, e neto do coronel Manoel Rodrigues da Rocha e de Dona Maria Isabel Gonçalves, carinhosamente conhecida como Sinhá Rodrigues.
Nasceu no sobrado mal-assombrado pertencente aos avós maternos, vizinho da residência de três malucos inspiradores dos seus contos universais.
Aos nove anos de idade, mudou-se com seus pais para Maceió, levando consigo as imagens dos costumes e de figuras da cidade, das festas religiosas, da escola onde estudara e dos misteriosos fantasmas que povoaram sua infância.
Depois de Maceió, estudou no Recife, onde fez o curso preparatório para medicina. Lá participou do movimento regionalista de literatura. Era amigo de Gilberto Freire e de outros intelectuais pernambucanos. Ainda estudante, escreveu o conto “Na Rua dos Lampiões Apagados”, dedicado a Graciliano Ramos.
Era médico. Sofria de distúrbios mentais. Esse terrível mal era atribuído por seus parentes a uma pancada na cabeça nas escadarias do sobrado, que tivera Breno numa queda aos dois anos de idade.
Breno Accioly foi o primeiro santanense a publicar livro. Isso ocorreu em 1944 ao publicar, aos 23 anos de idade, João Urso, o primeiro da sua obra literária. Seguido de Oscar Silva, em 1945.
Obras: João Urso (1944), Cogumelos (1949), Maria Pudim (1955), Dunas – romance – (1955) e Os Cataventos (1962).
Inéditas: Isabela (contos), O Caso do Guarda-Chuva Amarelo (contos), Onze Contos Inéditos, Pedras (romance) e Diário (crônicas).
Crítica Literária: Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Athayde) disse: “Contista de dramas daqueles que vivem nas fronteiras da loucura. Contos que devassam as camadas abissais da alma humana.”
José Lins do Rego: “Há uma tristeza sinistra nas suas narrativas.”
Edilma Bomfim, em seu livro Razão Mutilada: “Sua vida foi marcada por desencontros afetivos, crises existenciais e internamentos em manicômio.”
Editores do livro João Urso: “Histórias de penetração psicológica, de admirável qualidade estilística e de temas surpreendentes.”
Breno Accioly era racista, mas viveu grande parte de sua vida com Maria dos Anjos, sua “santa”, seu grande amor.
Faleceu em 13 de março de 1966, no Rio de Janeiro.
Maceió, maio de 2021.
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