Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Quanto a este poema, devo rápido esclarecimento sobre a razão de sua origem.
Na verdade, Beto e Zelma – casal com o qual perdi contato, faz muito tempo – leram alguns exemplares dos livros que publiquei. Encantaram-se com Santana do Ipanema e com alguns recortes pitorescos, folclóricos, engraçados, de alguns viventes de minha cidade, personagens dos livros.
Em viagem ao Nordeste em 2008, visitaram Santana do Ipanema. Na oportunidade, conheceram algumas pessoas da cidade e experimentaram o delicioso prato de cágado, então divulgado pelos santanenses como pertencente à linha tradicional da culinária regional. (Há muito tempo proibido, esse prato não é mais servido em Santana do Ipanema).
Ele, engenheiro, gente de teatro, poeta; ela, médica; ambos de Itajubá, Minas Gerais, mas residentes em São Paulo. De lá, recebi deles, àquela época, referências elogiosas a Santana do Ipanema, acompanhadas de poema alusivo à cidade e ao seu povo.
Então, coube-me agradecer-lhes a gentileza também em forma de poema. Ei-lo, pois, certamente produzido sem atender a certos padrões da versificação literária.
Ah! Itajubá, tão romântica e feliz!
Quanta alegria do poeta-aprendiz
Contemplar a serra da Mantiqueira!
Seus picos, suas escarpas. Altaneira!
Cortina crepuscular. A Mantiqueira.
Logo estará desperta a cidade inteira.
Dourados raios de luz. O clarão matinal.
Sereno amanhecer. A mansidão divinal.
Montanhas perdidas no horizonte,
Cidade alegre, de poetas – a fonte
De fazedores de melodia, de cantação.
Explosão de versos. Divina inspiração.
De longe fico a imaginar...
Boêmios, poetas, ao luar
Na rua, à noite, a cantar
Gente e belezas do lugar.
Ah! Boêmios, perdidos na noite!
A chuva fina, o vento, o açoite.
O som da viola, a amada. O abraço.
O frio gostoso, a garoa. O amasso
.
O ritmo, a música, o compasso
O beijo. O apertado abraço.
Que tempo bom, que passou!
Quantas saudades, que deixou!...
Madrugada, assobio, vento cortante.
Na praça, no bar, o beijo da amante.
Na boca, a fumaça da neve branca
Do sopro, do respirar do cantante.
Ah!Com certeza, um dia até lá chegarei
Vontade de te ver de perto. Como direi?
A neve, o boteco, a paisagem
A cidade, seu povo, a imagem!
Nada de infame, de pequeno, de meninice.
Escondido talento, modéstia de quem disse.
Do pé da montanha, da inspiradora quietude
Vem o borbulhar de versos. Suprema virtude!
O forte abraço do nativo poeta ganharia
Também da gentil amada, que simpatia!
Poeta, gente fina, alegre papo. Que bom letrista!
O teatro, o proscênio, a ribalta, a coxia. O artista!
Amigo, mal de poeta e de louco pode pegar!
A gente vai coçando, até gostando de coçar.
Palavras vão aflorando, aflorando, engatando.
Vão chegando, chegando, e me encantando...
Amigos, a tentação da última dose – dá saideira.
É como a vontade de beijar pela vez primeira.
Afinal, fazer versos de verdade – dá trabalheira.
É como a vontade de brincar – dá brincadeira...
Maceió, julho de 2008.
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