GRACILIANO E AS ADVERSATIVAS

Djalma Carvalho

Tenho a doida mania de leitura diária de textos de dois ou três diferentes livros. Leio um capítulo aqui, outro acolá. Detenho-me mais em um, menos em outro, e assim vou administrando o tempo da leitura. Sempre sublinho frases e parágrafos de maior reflexão, fazendo, daí, anotações ao lado de páginas e mais páginas. Para efeito de eventual estatística, diria que minha marca não passaria de um ou dois exemplares por mês. Nada, além disso.
No final do ano passado, recebi de presente do amigo e intelectual Geraldo Mendes de Souza, morador no Recife, o livro de crônicas A Primeira Vez (Editora CEPE, Recife, 2019), de autoria de Joca Souza Leão, jornalista militante na imprensa pernambucana.
O exemplar foi-me entregue, pessoalmente, acompanhado do marcador de página, com a dedicatória: “Ao amigo Djalma, dedico este livro do mestre cronista pernambucano Joca Souza Leão.” Claro, mais um gentil presente de livro recebido do citado colega aposentado do Banco do Brasil.
Li o livro com maior interesse, porque se trata de gênero literário de minha predileção – a crônica.
Concluída a leitura, lembrei-me do então jovem jornalista alagoano Jorge Segundo, que, comigo, José Marques de Melo, Antônio Sapucaia, e outros mais, participava, entusiasticamente, do suplemento literário dominical – Página dos Municípios – do saudoso Jornal de Alagoas, na década de 1960.
Jorge Segundo é autor da frase: “Graciliano Ramos, mestre do humor cáustico.”
O cronista pernambucano fez incluir no seu livro, após as deliciosas crônicas de divertidos textos, 101 diálogos que ele disse tratar-se de “uns, literais. Outros, quase. Prováveis. (Im)prováveis. Frases ditas num episódio, num verso, num romance, numa entrevista...”
Nesses diálogos, à página 196 encontrei, sinalizando-o, o havido entre o repórter do Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, e Graciliano Ramos, então revisor desse jornal.
Vejamos: “Seu Graciliano, o que o senhor tem contra as conjunções adversativas?” Graciliano: “Nada.”
Insistiu o repórter: “Então, por que quando eu as escrevo, o senhor as corta?”
De pronto, o mestre respondeu: “Porque mas, porém, contudo e todavia são a puta que o pariu!”

Maceió, janeiro de 2020.

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