FANTASIAS

Djalma Carvalho

Logo que cheguei a Maceió para morar, encontrei em circulação, entre colegas do Banco do Brasil, em 1976, já no número 4, o Boletim Recadu’s, órgão informativo da AABB.
Agora, passados muitos anos, encontro em meus desarrumados arquivos o citado exemplar, já amarelado, descorado, produzido e apresentado sem muita criatividade.
O colega Malafaia, autor da charge de capa, certamente era o editor do boletim. Outros editores, no passado, encarregaram-se da edição e circulação desse Informativo, entre os quais, salvo engano, o colega Cícero Ferreira Duarte, que trabalhou na agência do BB em Santana do Ipanema.
Convidado como colaborador, ao editor-chefe entreguei o texto abaixo, meio maluco, com o título “Fantasias”.
Vindo do Interior, acostumado com a vida sertaneja, de pronto, haveria de posicionar-me como possível crítico de novos costumes e hábitos observados na Capital. A novidade do ambiente, da paisagem litorânea, por exemplo.
Daí o texto atualizado, com algumas alterações, mesmo porque já se foram 46 anos:
“O domingo amanheceu muito bonito. Lindo mesmo. Céu límpido, cristalino, propício para passeio pelas praias alagoanas.
Céu azul, sem nuvens. Ótima manhã de sol.
Aquela colher de chá para o alagoano poder cantar e divulgar as belezas naturais de sua terra. A bela orla marítima alagoana. O coqueiral tremulando, balouçando. O murmúrio do mar e o quebrar das ondas. Água morna e mansa de nossas praias, consideradas as mais lindas do Brasil, quiçá do mundo.
Dia diferente. Para esquecer engarrafamentos, poluição e problemas que afligem nosso dia a dia.
Progresso e turismo andam juntos. Mudam hábitos. Preocupantes, ainda que necessários. Nossas praias sem sossego de antão. Viraram negócio para empresários empreendedores.
Fim de semana. Busca do lazer merecido.
Banho de mar. Caminhada na praia. Bola para a pelada dos guris. Barraca armada. Corpo estirado na areia. O bronzeado.
Tira gosto. Gelo. Cerveja. Espantar o estresse da semana.
Beleza. Vida boa. Domingo de descanso.
Mas a preocupação: chegar ao Trapichão bem mais cedo. Tempo para um lugar no meio da galera. Misturar-se ao povão torcedor.
Decisão de campeonato: coisa de todo ano – Azul e Vermelho, o que dá na roda. Torcidas inflamadas. Gritos. Assobios. Buzinas. Foguetes e bombas pondo em risco a vida. Bandeiras. Xingamentos. Radinhos ligados, barulhentos. De repente, o estrondo: goooll do Crrrbêê!!
Restou ao feliz personagem o retorno a sua casa de praia. Graças a Deus! Descanso merecido, pronto para nova jornada.
Passagem pelo litoral, pela beira-mar. A exuberante paisagem ficando para trás, à velocidade do carro. O coqueiral tremulando, balouçando ao sopro da ventania de uma bela tarde de verão em Alagoas.
Boteco aqui, boteco acolá. Tudo para outro domingo de sol.
Aí nomes variados, exóticos: “Fuxico Bar”, “Boite Kuxixo”, “Kuka Kente”. Outros mais.
Infinidade de fantasias. Afinal, o maroto comentário.
– Puxa! Karas kom kokô na kuka...”

Maceió, agosto de 2022.

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