Em nossa vida há datas que jamais serão esquecidas, uma delas certamente será considerada como sendo divisor de águas no caminhar dos anos de nossa existência.
Pode ser, por exemplo, a data do primeiro emprego, da colação de grau, do beijo da primeira namorada, do casamento, do nascimento do primeiro filho, assim por diante.
Também, como filho de Deus, tenho datas marcantes em minha vida. Aliás, marcantes e significativas.
Segundo mestre Aurélio, o dicionarista alagoano, saudade é “lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las.”
O poeta Da Costa e Silva, piauiense de Amarante, não deixou por menos, com os seguintes versos: “Saudade! És a ressonância/ De uma cantiga sentida/ Que, embalando a nossa infância, / Nos segue por toda a vida!”
Em 5 de fevereiro de 1952, então com 13 anos de idade, deixei o Sítio Gravatá, interior do município, e passei a morar na casa de minha avó Maria Rocha Melo, “Bilia”, em Santana do Ipanema. Deixei o Sítio Gravatá chorando com saudade. Era uma saudade forte, incontrolável, de muitas lágrimas, que pude ocultá-las o quanto pude. Deixara lá meus pais, irmãos e amigos. Também minha namorada, dela até hoje sem nenhuma notícia. Deixara para traz a beleza interiorana, a aurora, o crepúsculo vespertino, o céu estrelado, a estrela matutina, o espetáculo da lua cheia. A sonoridade do canto dos pássaros, o zunido da cigarra. A paz do dia a dia. O dedilhar da viola do tio Zeca. As cheias e o banho no riacho Gravatá, onde aprendi a nadar.
Essa mudança de vida foi por mim chamada de meu primeiro divisor de águas, meu choque emocional primeiro. Alfabetizado pelas escolas particulares lá do Sítio Gravatá, lendo, escrevendo e fazendo contas, fui levado à escola particular da inesquecível professora Helena Oliveira Chagas, em Santana do Ipanema, onde fui matriculado no 2º ano primário, hoje fundamental. Avaliado pela própria mestra, fui imediatamente levado para o 3° ano, em 1952. Ao final do 4º ano, em 1953, aprovado no Exame de Admissão ao Ginásio. Em 1954 já estava matriculado na 1ª série do Ginásio Santana.
Estudava e trabalhava. Meu tio Manoel Constantino levou-me a trabalhar na loja de tecidos da qual ele era gerente. Fechada essa loja dois ou três anos depois, passei a trabalhar em casa de comércio de ferragens, em Santana do Ipanema, também sem o registro trabalhista.
Finalmente, aprovado em teste, e a convite do saudoso amigo pernambucano Gilvan Vieira Guedes, fui admitido no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Residência de Santana do Ipanema, como escrevente-datilógrafo. Aí, em 17 de fevereiro de 1957, tive minha carteira de trabalho finalmente assinada.
Agora, sim, trabalhador legal, com direitos e deveres.
Bem, fiquemos por aqui. A continuação de fatos e relatos de minha vida ficará para outra conversa.
Maceió, 5 de fevereiro de 2025.
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