CÂMARA JÚNIOR INTERNACIONAL

Djalma Carvalho

Boca de noite chuvosa e fazia frio em julho de 1965, como de costume no sertão de Alagoas. Os jovens conterrâneos Ênio Ricardo e Isnaldo Bulhões, meus contemporâneos de juventude, procuraram-me em casa para trazer-me a ideia de fundação do clube de serviço chamado Câmara Júnior Internacional, em Santana do Ipanema.
O conterrâneo Ênio Ricardo, residia no Rio de Janeiro, estava de férias e era filho de José Ricardo Farias, respeitável senhor de família tradicional e que fora delegado de polícia na cidade. Isnaldo Bulhões, por seu turno, de família de políticos em Santana do Ipanema, exercia, na ocasião, o cargo de secretário do prefeito Ulisses Silva.
Trouxeram-me a boa nova. De início, o susto. O Brasil vivia os rigores da Ditadura Militar, depois do golpe de 1964. Mas, como se tratava de clube de serviço nascido em 15 de outubro de 1915, em St. Louis, nos Estados Unidos, não em Cuba, nem na União Soviética, sentamo-nos para conversar, tranquilamente.
Eu nunca tinha ouvido falar desse clube de serviço, que já se espalhara pelo o mundo afora. Conhecia o Rotary Clube Internacional, clube já instalado na cidade desde 1959, que reunia comerciantes, profissionais liberais e até o juiz de direito, Dr. Luís de Oliveira Souza. O Lions Clube Internacional, por exemplo, só chegaria a Santana do Ipanema em 16 de novembro de 1969.
Daí, então, após as informações de Ênio Ricardo, foram surgindo, para arregimentação, nomes de possíveis adeptos da ideia lançada, entre os quais Sílvio Bulhões, José Pinto de Araújo, Dr. Aldo Casado Costa, Carlos Pereira (Ancar), Paulo Onofre, Hugo Vital do Nascimento, Elias Alves Feitosa, Marcos Cintra, Luiz da Rocha Chaves, José Francisco Tenório, Gileno de Melo Carvalho, Raimundo Nonato do Nascimento e outros mais.
Postos na mesa os fundamentos da organização internacional – em inglês, Junior Chamber International (JCI) – empolgou-me, sobremaneira, sua Carta de Princípios, assim lavrada:
“Nós acreditamos:
Que a fé em Deus dá sentido e finalidade à vida;
Que a fraternidade entre os homens transcende a soberania das nações;
Que a justiça econômica pode ser melhor obtida por homens livres através da livre iniciativa;
Que os governos devem ser de leis mais que de homens;
Que o grande tesouro da terra está na personalidade humana;
E que servir à humanidade é a melhor obra de uma vida.”

Estava fundado, informalmente, o novo clube de serviço na cidade. Tive a honra de ser o primeiro presidente do capítulo. Isnaldo Bulhões seria uma forte liderança do movimento na cidade. Declinara do cargo de presidente porque, em sendo secretário do prefeito Ulisses Silva, tinha seu tempo bastante ocupado.
Cuidou-se, em fim, de panfletos, impressos, formulários, flâmula, estandarte, pins, etc. A Ênio Ricardo reservados ficaram os contatos, a respeito, com o capítulo regional da Câmara Júnior Internacional, no Recife, e com seu clube, no Rio de Janeiro.
Sabe-se que, no mundo da solidariedade e do voluntariado, bem servida estará uma comunidade quando nela se instala um clube de serviço. Certamente, o clube de serviço disporá, para cumprimento de sua finalidade, de homens de profissões e ocupações diferentes, bem intencionados, voluntários, preocupados com os problemas que afligem a comunidade no seu dia a dia. Os clubes de serviço funcionam com a preocupação do servir desinteressado, assessorando o poder público e oferecendo-lhe sugestões para soluções de problemas os mais diversos. Claro, acrescente-se a tudo isso a prática de amizade e de companheirismo, entre seus membros.
O novo clube, além de outras promoções de cunho eminentemente sociais, cuidou do natal da criança pobre, de festas das personalidades e de uma inusitada partida de futebol, com o estádio lotado, entre as equipes do Rotary e Câmara Júnior, cuja renda foi destinada à casa de Idosos São Vicente de Paula. O árbitro da partida, Lincoln Jobim, colega do Banco do Brasil, mais palhaço que bancário, roubou a cena do espetáculo esportivo.
Como presidente do capítulo da Câmara Júnior, no início de 1966 o prefeito Adeildo Nepomuceno Marques convidou-me para compor a comitiva para a solenidade de inauguração do açude público construído pelo Dnocs no município de Itaíba, ou Inajá, Pernambuco. Também participou da comitiva o ex-prefeito revolucionário de 1930, Frederico Rodrigues da Rocha. Ao final da solenidade, o prefeito levou-nos a cumprimentar o general Juarez Távora, então titular do Ministério da Viação e Obras Públicas e destacado líder da Ditadura Militar, no Nordeste.
Num elegante, festivo e histórico jantar realizado no Tênis Clube Santanense, com a presença de sócios e familiares do Rotary, Lions e Câmara Júnior, Dr. Adelson Isac de Miranda, de saudosa memória, em discurso de saudação, disse: “Com esses três clubes, nada mais falta a Santana do Ipanema.”
Tempos depois, infelizmente, os sócios do novo clube, por imperativos profissionais e funcionais, foram sendo transferidos da cidade, surgindo daí a inevitável dificuldade de reposição do seu quadro social. Em consequência, o capítulo começou a enfraquecer, perdendo, paulatinamente, a importante e necessária motivação de existir.
O encerramento das atividades da Câmara Júnior Internacional na cidade ocorreria, salvo engano, no início da década de 1970.
Registre-se, não obstante, que, nesse período e enquanto esteve ativo, o capítulo da Câmara Júnior prestou relevantes serviços à comunidade santanense, participando, forte e marcadamente, da história de Santana do Ipanema.

Maceió, fevereiro de 2021.

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