A partir da 1ª série ginasial, em 1954, passei a me interessar por História do Brasil, matéria lecionada por Aderval Vanderlei Tenório no Ginásio Santana, educandário sempre lembrado em Santana do Ipanema. Ainda acadêmico de Direito e galã do teatro universitário do Recife, o referido professor fazia da sala de aula palco para o exercício de sua nascente e fluente oratória, uma vez que escolhera para si a profissão de advogado, que seria exercida, plenamente, com muita competência e sucesso.
Em minhas andanças por Portugal, ponho-me, muitas vezes, a recordar aulas de História ministradas pelo professor Aderval Tenório. Detenho-me, em terra lusitana, na observação de placas de avenidas, de monumentos e de imponentes palácios. Reencontro-me, desse modo, com o nosso passado histórico – do Brasil Colônia ao Brasil Império –, especialmente.
Leio, agora, o interessante capítulo “Floriano Peixoto & Solano López”, do volumoso livro intitulado Atrevidos Caetés (Viva Editora, Maceió, 2019, pp. 77/81), de autoria de Fábio Lins de Lessa Carvalho, jovem e talentoso historiador alagoano.
Disse o autor do livro em suas Considerações Iniciais: “Existem inúmeras histórias interessantes esperando ser contadas, faltando, muitas vezes, apenas alguém que as descubra e as revele ao público.”
Pois bem. A Guerra do Paraguai, conflito entre o Paraguai e a Tríplice Aliança – composta pelo Brasil, Argentina e Uruguai – iniciou-se em 1864 e terminou em 1870, com a morte do ditador paraguaio Francisco Solano López.
Diz-se que o motivo do início da guerra ocorreu com o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de Olinda no porto de Assunção, em 11 de novembro de 1864. No referido barco viajava o então presidente da província de Mato Grosso, Frederico Carneiro Campos, que morreu em prisão paraguaia. O motivo da guerra com os demais países da Tríplice Aliança – Argentina e Uruguai – teria girado em torno da expansão dos limites da fronteira paraguaia, além de questões políticas criadas e potencializadas pelo ditador Solano López.
Participaram da guerra os irmãos Fonseca (Hermes, Afonso Aurélio, Severiano, Deodoro, Hipólito, Emiliano e Eduardo), Floriano Peixoto, Gabino Besouro, Roberto Ferreira e Virgínio Napoleão, todos militares, e mais 3.578 alagoanos, segundo o historiador Craveiro Costa, citado pelo o autor do livro.
A História registra que dos oito filhos militares da matriarca Rosa da Fonseca sete foram lutar na Guerra do Paraguaio. Três deles morreram em combate (Afonso Aurélio, Hipólito e Eduardo). Deodoro da Fonseca, pela sua bravura e pelos ferimentos que sofrera, tornou-se o grande herói da guerra, condecorado, mais tarde levado a proclamar a República brasileira.
Floriano Peixoto, por sua vez, foi outro militar de impressionante bravura, também condecorado. Permaneceu no campo de batalha durante os cinco anos da guerra. Ao lado de Deodoro teve importante participação no episódio da proclamação da República. Na batalha do Cerro Corá, que marcou o fim da guerra, com a execução de Solano López, Floriano Peixoto comandava o IX Regimento de Infantaria, “embora não tenha ele participado de tais atos”, segundo o historiador, autor do livro citado no início destas notas.
O conflito havia chegado ao fim com a entrada das forças aliadas em Assunção, cidade abandonada à própria sorte. Contrariado com a fuga do ditador para a cordilheira, D. Pedro II teria dito: “Eu não negocio com López. É uma questão de honra, e eu não transijo!”
Coube ao conde d’Eu a caçada final para executar Solano López em Cerro Corá. Iniciou-se, então, verdadeira carnificina. Foram trucidados velhos, mulheres, crianças
e adolescentes, feitos escudos pelo ditador encurralado, segundo o historiador Laurentino Gomes.
Calcula-se que as perdas humanas durante a guerra, do lado paraguaio chegaram a 300 mil pessoas, entre civis e militares. Do lado brasileiro: dos 160 mil homens que foram à guerra – 60 mil não voltaram.
Afinal, Santana do Ipanema, segundo a tradição oral, entrou nessa história com a figura de Domingos Acácio, hoje nome de bairro na cidade, herói da Guerra do Paraguai. Ao retornar do conflito, o bravo santanense foi agraciado pela intendência da vila com o honroso cargo de acendedor de lampiões.
Maceió, junho de 2019.
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