MANÉ-GOSTOSO

Clerisvaldo B. Chagas

MANÉ-GOSTOSO
(Clerisvaldo B. Chagas. 30.6.2010)

O talento para as artes está espalhado por todos os quadrantes do mundo. Atualmente os produtos estão sendo valorizados, desde os mais simples aos mais complexos. Graças às escolas, organizações comunitárias e as orientações de algumas entidades, o artesanato vai sendo aceito e proporcionando renda extra para grande número de famílias. Lembramos dos produtos artesanais da área de brinquedos que circulavam nas feiras e ruas do interior na segunda metade do século XX. Para as meninas, as bonecas de pano sempre fizeram sucesso, mesmo sem os pés. Talvez fosse somente falta de orientação nesse detalhe, mas não havia quem pudesse exercer esse papel. Entre tantas peças do artesanato de brinquedos, destacavam-se também o carro-de-ladeira, o aviãozinho de vara e o Mané-gostoso. O carro-de-ladeira tinha apenas o lugar do motorista e geralmente imitava o caminhão. A meninada empurrava o carro até o topo do declive e, dali em diante era com o condutor. O aviãozinho tinha o formato de uma aeronave e era empurrado por uma vara fixa. Quando as duas rodas se moviam, as hélices entravam em ação. Tudo de madeira pintada. O Mané-gostoso, por sua vez, era formado por duas hastes também de madeira pintada, um barbante ligando as duas na parte superior e um boneco pendurado no barbante, com as mãos. A criança apertava com os dedos a parte inferior das hastes e comandava o boneco. Mané-gostoso obedecia imediatamente o seu comando. “Fique em pé, Mané-gostoso!” “Bote as pernas para cima, Mané!” “Rode no barbante, Mané-gostoso!” E o Mané-gostoso virava escravo das ordens imperativas.
Tempos depois, fomos vendo os mesmos brinquedos, frutos dos artesãos desconhecidos do interior, transformados em produtos industrializados. Pobre tempo em que o artista não registrava o invento, fruto exclusivo da sua imaginação. Assim as grandes fábricas vão faturando em cima dos brinquedos rudes e atrativos da nossa juventude. E a sociedade vai sendo guiada conforme diziam os antigos: “o mundo é dos mais espertos”.
A vida da gente é uma guerra constante contra as adversidades. E nessas batalhas sem quartel, vão se acumulando experiências e também observações que nos encantam ou decepcionam no decorrer da caminhada. É bom saber que existem pessoas competentes, sérias e servidoras. Pessoas que trabalham respeitando seus semelhantes, dignificando seus atos, honrando a profissão e a família. Não precisamos citar nomes de personagens famosas porque estamos cercados de gente simples que possui essas qualidades. Mas também cruzam em nossos caminhos figuras que apenas nos ajudam a purgar os pecados de vidas passadas. Entre os vários tipos diferentes de indivíduos, existem os que não querem mudar, não procuram melhora interior, não possuem autocríticas. As luzes dos seus espelhos só refletem imagens distorcidas do equilíbrio, da honra, da dignidade. Ninguém é perfeito, mas que decepção, escárnio e dó em torno dos que insistem em imitar MANÉ-GOSTOSO.



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