O Ministro da Defesa, em visita às cidades devastadas pelas enchentes de 18 de junho passado, comparou a tragédia alagoana à do terremoto que arrasou o Haiti em janeiro deste ano.
Em verdade, as imagens da TV e os registros fotográficos mostraram, com absoluta fidelidade e extrema clareza, o drama da gente alagoana, comparável à catástrofe do Haiti. Gente que viu, de uma hora para outra, desaparecer tudo – casa, móveis, roupas, mercadorias, animais –, tudo levado de roldão pelas águas barrentas dos rios Mundaú e Paraíba.
Aquela gente ribeirinha viveu horas de angústia e desespero, até porque, além dos bens materiais perdidos, vidas também se foram rios abaixo com a fúria das águas que invadiram casas, ruas, sítios e povoados, deixando desolação aqui e acolá.
O povo alagoano e o governo estadual, felizmente, logo se sensibilizaram com a tragédia. Os números iniciais publicados na imprensa foram significativos, dando-nos a dimensão do desastre: 28 municípios atingidos; 48 mil casas destruídas; 181 mil pessoas afetadas; 56 desaparecidas e 37 mortos.
Com a notícia, o Brasil inteiro mobilizou-se, formando o grande mutirão de solidariedade e de ajuda às vítimas. O milagre da moderna e rápida comunicação contribuiu, decisivamente, para que a ajuda aos desabrigados chegasse ao destino, tempestivamente. Até os governos da Argentina e da Venezuela, também sensibilizados, prometeram ajuda aos desabrigados de Alagoas.
A referência do ilustre ministro ao terremoto do Haiti fez-me lembrar o artigo que há pouco li na revista Radis – Comunicação em Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, edição de abril de 2010, intitulado Solidariedade Silenciada. Durante as primeiras 72 horas após aquele terremoto, uma das principais iniciativas de assistência ao povo haitiano veio de Cuba, de onde chegou uma brigada de 400 médicos e 60 especialistas em catástrofes, fato sobre o qual a imprensa silenciou. Bom seria que iniciativa dessa natureza por aqui também tivesse chegado.
A rapidez da notícia da catástrofe ganhou o mundo, e logo surgiram os primeiros socorros e ajuda às vítimas, vindos de entidades diversas, clubes de serviço, comércio, indústria, bancos e voluntários de todos os segmentos sociais, solidários com os irmãos alagoanos em desespero. Acomodadas as famílias em abrigos e em lugares seguros e dignos, os recursos do governo federal começam a chegar a Alagoas.
Historicamente, as cidades foram fundadas à beira dos rios, como forma de sobrevivência dos primeiros habitantes, porque dali eles retiravam o alimento, o pescado e o precioso líquido da vida – a água. Ademais, serviam os rios de caminho natural aos desbravadores e colonizadores. Daí, então, as cidades cresceram desordenadamente, até incharam, e tudo se fez sem planejamento e sem o devido estudo de previsão de enchentes cíclicas e de outros fenômenos da natureza.
Agora, apesar de tudo, a palavra de ordem é reconstruir, porque surge esperança de nova vida, de luta, de redobrado trabalho e de esforço coletivo em meio às tristes lembranças dos estragos causados pelas enchentes que tanto castigaram a região da mata alagoana.
Felizmente, a tempestade passou.
Maceió, junho de 2010.
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