AS TRÊS RAPOSAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de setembro de 2010)
Faltando apenas dois dias para o início da primavera, o Sertão alagoano ainda vai deixando a frieza de inverno pelas noites serenas. Tendo iniciado este ano com atraso, a estação das águas descontou durante julho e metade de agosto. A região continua verde, açudes e barreiros cheios e ainda lençóis reforçados sob telhas de barros dos sítios e da cidade. É nessa ocasião transitória, quando as ruas ainda cedo ficam desertas, que aparecem os contrastes. O homem se recolhe em seu lar, mas os carros de som infernizam pelo lado de fora, ferindo-lhes os ouvidos, querendo forçar uma suposta pega na abertura. Dentro desses últimos quinze dias que restam para as eleições, futucar as pessoas dia e noite com a vara de som, é missão mesmo do cão do inferno que não tem quem aguente. Quem quiser que pense em passar das seis horas no quentinho da cama! Nem adianta gritar para o camarada do volante com o pescoço espichado na janela. Se o peste ouvir, talvez consiga responder: “Homem, me deixe ganhar o pão dos meninos!” E o badalo dana-se no mundo repetindo trezentas mil vezes o nome do candidato. Durante a noite, do mesmo jeito. Se não escolheu ainda o tal candidato, negão, o badalo vai cantar no seu pé de ouvido até altas horas da noite. A festa da democracia é bonita, mas o negócio, amiguinho, é o abuso. Os que entram no processo querem porque querem arrancar a opinião favorável através do grito. Mesmo assim vamos tentando segurar a paciência até o dia da verdade que também muitas vezes não é tão verdadeiro assim.
Estamos diante de uma batalha ferrenha. Para governador, lutam na arena três raposas bem vividas, que procuram justificar a excelência do mamífero canídeo. As raposas estão espalhadas pelo mundo inteiro. Tanto aparece no norte quente da África, quanto no gelo medonho do Canadá. Descobriram nesse animal o dom da esperteza e da malícia. Raposa come quase tudo: coelhos, lebres, ouriços, aves, peixes, frutas. Tudo o que sobra vai guardando em esconderijos que chegam a vinte, sem esquecer-se de nenhum deles. Não achando o que comer por onde anda, vai rondar as casas da área rural e urbana. Quer dizer, vai mesclando a sua dieta entre frutas, carne vermelha e carne branca, recomendada pelos médicos. Sabe ou não sabe das coisas? Pois bem, vimos, então, que a raposa guarda até em vinte esconderijos. Eles guardam em muito mais. Elas comem muitas coisas. Eles levam tudo. Raposas procuram as tocas, os galinheiros... Eles procuram os cofres. E no final de tudo, o pasto deles somos nós, deglutidos esperneando ou não. Meu amigo é livre, pensa como quer. Mas nessa batalha não haverá vencedores nas multidões. Só ele será o vencedor: a raposa mais escolada do tripé. Vamos às urnas cumprir em Alagoas o destino da canga. Vai ser assim com a filharada das pradarias e as TRÊS RAPOSAS.
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