A BARONESA

Clerisvaldo B. Chagas

A BARONESA
(Clerisvaldo B. Chagas. 28.06.2009)
(Crônica de número 43, publicada em 28.6.2009)
para ser distribuida entre os participantes da caminhada

A cidade de Santana do Ipanema, no Sertão de Alagoas, é ladeirosa e repleta de patamares. Tendo iniciado a sua existência em um desses patamares, logo o casario começou também a percorrer declives e aclives das cercanias. Em torno do seu sítio urbano destacam-se alguns montes denominados regionalmente “serrotes” que quer dizer, pequenas serras. Ao norte da urbe, com vista panorâmica, localiza-se o serrote do Pelado que passou a chamar-se Alto da Fé a partir do governo Genival Tenório. Ao sul está o serrote do Gonçalinho, denominado em tempos modernos, do Cristo ou das Micro-ondas; o morro da Goiabeira, também chamado serrote do Cruzeiro; o serrote Pintado e a serra Aguda. Todas essas elevações funcionam como extraordinários mirantes da cidade.
Na área rural surgem alguns montes que consolidam a palavra serrote como o serrote dos França, dos Brás, do Amparo, Severiano, dos Bois e o dos Angicos. Entretanto, o forte das elevações está no Maciço de Santana, que representa o final do Planalto da Borborema. Os destaques do Maciço — ao norte e nordeste da sede — são denominados serras como a do Poço, Camonga, Macacos, Gugi, Jardim, Mulungu e Caracol. Em eras mais distantes, essas elevações de terras férteis e micro clima ameno, abasteciam as feiras semanais da região com frutas e legumes. A serra do Poço já foi sondada como possível abastecedora de água para Santana. Vítima de uma nuvem pesada que lhe tirou boa fatia de terra, também já forneceu fósseis para os curiosos. A serra do Caracol foi marco inicial do Município. A serra do Gugi foi motivo de crônica do escritor Oscar Silva. A serra da Camonga tem histórias e lendas e, no momento é a que mais nos interessa.
A serra da Camonga forma um meio arco vindo do norte, estende seu lombo extraordinário em direção ao sul, e se debruça abruptamente sobre a estrada Santana—povoado São Félix. Esse final abrupto da Camonga é formado por imenso rochedo vertical, desnudo e branco. Quem olha de cima sente arrepios só em pensar que dali do alto caiu um vaqueiro em busca de reses desgarradas. Para os crédulos, é ali onde existe um reino encantado com sua fortuna em pedras preciosas.
Quem contempla de longe a serra da Camonga, sendo amante da natureza, fica encantado com a verticalidade do final. Sem dúvida alguma, parece uma baronesa com seu mais belo vestido rendado, sentada confortavelmente no seu trono de marfim. Aquela imagem surrealista da baronesa representa um descomunal monumento à comunhão Deus-homem, no desenho do elevado. Nem a imagem de uma rainha desbanca a figura da baronesa no seu trono cravejado de diamantes. Falta apenas um cetro. Um cetro e nada mais para que ela possa comandar terras e homens que lhes tocam os pés. Serra da Camonga, a Baronesa do Sertão.




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