Antonio machado
As chuvas caídas no sertão, trouxe um verde alcatifa que está deixando a terra atapetada com o brotar da relva nos campos outrora adustos, e uma folhagem exuberante que revestes as árvores e arbustos, afora as floradas das serras dentro de um bucolismo que somente o sertão desfruta, provocando uma beleza esfuziante ao olhar daqueles que admiram a paisagem sertaneja, mormente àqueles que se deleitam com a paisagem campesina, isto é sertão. O maior poeta sertanejo do passado, Leandro Gomes de Barros (1.868-1.918), evocativamente, escreveu: “morro e não me esqueço/ de tudo que encerra/ minha querida terra/ meu sagrado berço/meu coração de apreço/ solo abençoado/ hoje desterrado/ me vejo proscrito/arrancando um grito/ de um peito cansado. Em meio a folhagem rica e densa, agitando as asas finas, debulha-se em canto a cigarra, pequeno invertebrado da família dos homópteros, que com seu canto estridente e aguçado solta nos ares sertanejas seu apito dolente e mavioso, que para o sertanejo, reveste-se de um enigma enigmático, a certeza de um bom inverno, nos galhos das árvores, outrora hirtos, agora pejados de uma folhagem bonita, a cigarra parece se camuflar em meio ao verde, porém seu canto a identifica, notadamente nos dias de sol quente onde seu canto poético inspirou o poetas Olegário Mariano Carneiro da Cunha (1.889-1.958), foi um exímio cantor das cigarras, tendo até sido cognominado de “o poeta das cigarras” dado era seu apreço por elas, tendo escrito um livro intitulado de Últimas cigarras. Pois via naquele pequeno ser, uma mensageira da alegria sertaneja.
Nas primeiras trovoadas do ano, as cigarras povoam o sertão infestando as árvores, são seres inofensivos, e tem servido de tema para os poetas e prosadores, dado seu apego ao sertão e suas peculiaridades, o poeta Colly Flores, escreveu: “na catingueira copada/ fiquei de parte escutando,/uma cigarra cantando,/bem na beira da estrada”. Infelizmente esses seres tão conhecidos, estão se acabando, e tendem a desaparecer, face às queimadas desordenadas, em vista de sua sobrevivência estão atávicas as árvores, e estas vem sendo destruídas pela ação depredadora do homem, como a lhes arrancar o bulbo de sua existência, quando se sabe que o bioma nordestino vem sendo prejudicado sensivelmente pela ação do homem. O que se fazer diante de tantos descalabros? Necessários se faz, a reeducação do homem e sua conscientização ante a natureza, que ao longo dos anos vem sofrendo as consequências da falta de uma política voltada mais para o esclarecimento nas escolas, clubes de serviços, comunidades, gerando tanto no educando, quanto nas pessoas outras, uma nova visão de ver as coisas como elementos essenciais a vida humana, e que toda natureza carece ser preservada. O sertão florido canta em dueto com a cigarra, ao som mavioso do canto do sabiá, levando o poeta Manoel Bandeira (1886-1968) a escrever poeticamente: “o sabiá no sertão/ quando canta me comove/ três meses passa cantando/ e sem cantar passa nove/ pois tem por obrigação/ de só cantar quando chove”.
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