ODONTOLOGIA EM ALAGOAS E SUAS HISTÓRIAS

Djalma Carvalho

Sinto-me honrado cada vez que recebo qualquer convite, seja para aniversário em família, confraternização, seja para casamento ou festa de formatura. E, em se tratando de solenidade de lançamento de livro de conterrâneo, pessoa de minha estima e admiração, mais significativo para mim será o convite recebido.
Pois bem, em dezembro passado, vi-me angustiado ao desejar atender a dois convites para eventos que se realizariam numa mesma data, à noite. De um lado, o atencioso convite do Dr. Adelmo Farias Barbosa, para assistir à solenidade de lançamento do livro por ele cuidadosamente organizado, denominado Histórias da Odontologia de Alagoas. De outro, a festiva assembleia de confraternização natalina, para a qual importante autoridade do Lions havia sido convidada.
Dividido, então, para cumprir dois compromissos sociais na mesma noite, organizei-me muito cedo, ciente do tempo de que dispunha, dos horários quase coincidentes e de como enfrentar o infernal trânsito de Maceió.
Na primeira solenidade, que estava repleta de ilustres personalidades da sociedade científica alagoana, pude abraçar Dr. Adelmo e parabenizá-lo, dele recebendo, autografado, um exemplar do seu livro. Logo depois, consegui chegar a tempo à segunda, porque sabia que, costumeiramente em Maceió, nenhuma solenidade tem início à hora marcada, sobretudo a de casamento.
Naquela noite, minha preocupação primeira era a de prestigiar o escritor conterrâneo (por mim assim considerado), ilustre e competente cirurgião-dentista e membro da Academia Alagoana de Odontologia, que ainda muito jovem deixara o sertão alagoano e aqui em Maceió soube lutar e acreditar no trabalho honrado de sua profissão. Muito cedo deixara ele Olho d’Água das Flores e passara a adotar Santana do Ipanema como sua segunda cidade natal, onde estudou e se preparou para enfrentar o vestibular em Maceió. Hoje, Dr. Adelmo é professor da Ufal, com mestrado, especialista em Periodontia e vitorioso cirurgião-dentista.
Até a década de 1950 poucos santanenses – talvez um ou dois, não mais – possuíam diploma de curso superior. Hoje, perde-se a conta deles, graças, principalmente, a um paraibano idealista, chamado Felipe Tiago Gomes, que, em Recife em 1943, fundava a Campanha Nacional de Escola da Comunidade, atual Cnec. Daí em diante, o movimento espalhou-se pelo Brasil afora, chegando a Santana do Ipanema em 1949. Depois de fundados o Ginásio Santana (1950) e o Colégio Estadual Prof. Mileno Ferreira (início da década de 1960) é que o jovem santanense pôde ingressar na universidade. Sertanejo e lutador de verdade, Dr. Adelmo veio daí, nessa esteira vitoriosa da educação no interior alagoano.
Seu livro reúne artigos de consagrados professores que contam a história das duas faculdades de odontologia então existentes em Alagoas, a dramática fusão delas e a transferência para o Campus A. C. Simões em 1990. Há depoimentos com recheios notadamente nostálgicos. Entre as histórias pitorescas contadas, anotei a escrita por um consagrado mestre, que acontecera em sala de aula, sobre “periodontia de inserção e atividade da tríade osso-ligamento-cemento, mastigação e atrofia por desuso”. Pergunta do aluno, levantando o braço: “Professor, a atrofia por desuso acontece também com os órgãos sexuais?” Resposta do mestre: “Na sua concepção, é possível.”
Parabéns, afinal, ao Dr. Adelmo e aos autores dos artigos e depoimentos que muito enriqueceram a coletânea.
Maceió, março de 2012.

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