LAMPIÃO ELÉTRICO

Antonio Machado

Antonio Machado
O ano de 2018, assinala a passagem dos 80 anos do maior bandoleiro do nordeste, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, 1938-2018 a fazer no próximo dia 28 de julho próximo. Historicamente, o maior dos celerados violentos e facínora do nordeste, embora outros também tenham trilhado o mesmo caminho a exemplo de Antonio Saturnino, Floro Gomes Novais, que conheci pessoalmente, Corisco, o diabo loiro; conheço de perto o seu filho, Dr. Professor Silvio Bulhões, do casamento de Corisco com Dadá, ele faleceu em 1940, enquanto Dadá sobreviveu ao assalto, mesmo perdendo uma perna, Silvio está concluindo um livro sobre seu encontro e reencontro de toda saga de sua família centrada em relatos fidedignos de sua mãe Dadá, que certamente será uma obra para colecionadores e admiradores da historia do cangaço, muitos outros bandoleiros existiram, porém o que mais se notabilizou foi Lampião, que dentro de sua historia tem uma literatura desde a oralidade, poesia, prosa e até clássicos, cada qual no seu modo e estilo de escrever, verdade se diga, que todos emprestam seus conhecimentos na área do cangaço.
Na última reunião ordinária “magra” da ACALA. Academia Arapiraquense de Letras e Artes, de onde sou sócio efetivo a mais de 30 anos, o confrade Carlisson Galdino, poeta cordelista lançou um livreto denominado de Lampião elétrico, o nome me surpreendeu, não sou e nem pretendo sê-lo biógrafo de Lampião, apenas modesto pesquisador do cangaço e sendo leitor dessa saga, e já há muitos anos possuo certo acervo, e tenho até por curiosidade uma cópia do batistério de Lampião que me foi oferecido por um pesquisador. Mas o que me chamou atenção foi o titulo do folheto Lampião elétrico composto de 46 estrofes em 7 versos, chamado em literatura cordelista de setilha e uma em 10 versos, uma décima.
Carlisson Galdino parece ter recebido nos interstícios da vida as bênçãos de Zeus, deus dos deuses da mitologia grega, fazendo-o poeta. A obra que ele narra, é uma “estória” futurista, imaginativa da inteligência fecunda do autor que recria parte da história verídica do bandoleiro Lampião com suas investidas e recuos, que se passa daqui há 100 anos, quem viver verá, e se o caso ocorrer é uma narrativa jocosa bem arquitetada tão próprio dos poetas, fugindo muito à regra dos cordelistas do passado, também, pudera estamos em pleno século XXI, na era da tecnologia, Carlisson não chega a ser o poeta Leandro Gomes de Barros, hoje mito da poesia, um Pedro Bandeira, um João Gomes de Oliveira (nosso Caboclinho de saudosa memória), membro da ACALA, mas sua semente de poesia ficou plantada nos anais da história da poesia arapiraquense, mesmo sendo autodidata, porque a poesia é dom, o livro Lampião elétrico do jovem poeta Carlisson Galdino, que também é escritor, cronista, filho do ambientalista Cícero Galdino, pessoa de destaque na região de Arapiraca dada a sua verve literária, seu filho Carlisson já escreveu e publicou mais de 50 cordéis abrangendo todos os assuntos, dizer que Galdino é poeta bacharel em ciências da computação, e é fascinado pelas tradições, literatura popular e membro da Academia Alagoana de Literatura de Cordel, sendo pessoa de bom relacionamento no contexto cultural de Arapiraca e seu entorno, tudo isto é uma verdade e assim vai Carlisson semeando sua cultura em poesia, com nomes até meios esdrúxulos a exemplo de Castelo gótico, Cordel da pipa e da sopa, Cordel do baOffce, Dil Má, Lampião elétrico, Palito amigo de Freud e tantos outros cordéis para todos os gostos para ala mais jovens. Parodiando Luiz Gonzaga a Benito de Paula, vale aqui a intenção “como é bonito Carlisson; quem é poeta é que vê; como é bonito, Carlisson; poeta como você”.
Concluo meu modesto artigo sobre o bardo Carlisson Galdino, confrade da ACALA; com uma estrofe de Luiz de Camões: “Oh! Bendito que semeia| livros... livros à mão cheia, | e manda o povo pensar, | o livro caído na’lma, | é germe que faz a palma, | é chuva que faz o mar” (do poeta Castro Alves em Espumas Flutuantes) “a poesia não se faz, já nasce feita, mas carece do poeta para descobri-la” (Colly Flores)

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