ALBERTINA E O TEATRO

Djalma Carvalho

ALBERTINA E O TEATRO
(Crônica do livro Caminhada, revista, em homenagem a Albertina Agra)

Considerada a Dama do Teatro de Santana do Ipanema, Albertina Nepomuceno Agra, falecida nesta data, estava para o teatro de sua terra como Márcia de Windsor estava para o teatro brasileiro. Seria, por exemplo, uma Aracy Balabadian das novelas de hoje, se não tivessem tolhido seus passos em busca de sucesso nos palcos. Essa mágoa ela levará para o túmulo: carta de um amigo da família, remetida do Recife, serviu de estopim para impedi-la de participar de ensaios de peças teatrais que seriam exibidas no Teatro Deodoro, em Maceió. Insinuara o maldoso missivista: “Aderval Tenório inventava teatro para beijar as jovens conterrâneas.” Fato que ela recordava bem-humorada, embora magoada: “Cortaram meu ‘barato’, minha carreira de atriz.”
Apaixonada pela arte de representar, Albertina Agra participou das peças “Grande Mentira”, “Renúncia”, “Bicho do Mato” e “Feia”, todas elas montadas, ensaiadas e levadas à cena com grande sucesso de público. Peças exibidas no auditório existente nos fundos da prefeitura municipal, no palco do cinema de Zé Filho (sobrado no centro histórico da cidade), no do Cine Glória e no do salão de festas da Cooperativa Agrícola. Não mais existe nenhum desses palcos. Os dois primeiros prédios foram demolidos.
Ainda muito jovem, tive a oportunidade de assistir a quase todas essas peças no cinema de Zé Filho e no Cine Glória.
O teatro movimentando a vida da cidade, natural que arregimentasse muita gente para o exercício de ator, na condição de amador. Vejamos quem participou do grupo dirigido pelo pernambucano Augusto Almeida: Aderval Tenório, Albertina Agra, Fernando Nepomuceno Filho, Geraldo Monteiro, Elúzia Gomes, Cristália Queiroz, Lourdes Santana, Alberto Agra, Darras Noya, Margarida Falcão, José Melo, Everaldo Batista, Sargento Barros, Cleusa Pires, Raquel Freire, Maria da Luz Oliveira, Maria de Lourdes Agra, entre outros.
O sucesso do amadorismo limitou-se aos primeiros anos de 1950, de boas lembranças. Depois, desfeito o grupo, o destino levou cada um para caminhos diferentes. Albertina, amando sua terra, ficou em casa. Tornou-se comerciante e sócia da farmácia do irmão Alberto. Daquela época, e por muito tempo, ela participou de todas as tentativas para reerguer o teatro amador na cidade, emprestando seu talento e sua experiência vivida nos bastidores e no palco. Entusiasta, participou de movimentos culturais de sua terra, em todas as suas manifestações e matizes.
Esteve, afinal, no meio de jovens, irradiando simpatia e bondade, cantando, recitando, batendo palmas pelas coisas boas, vibrando com a vida boa de viver, de saber viver. Agora, estará no plano celestial, descansando em paz.

Maceió, 2 de janeiro de 2019.

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