Governo de Alagoas lança na internet a campanha "Xangô - Fé e respeito"

Religião

Por Natalício Vieira / Agência Alagoas

O Quebra de Xangô também serve como um lembrete da luta incessante contra a intolerância religiosa

Iniciativa visa mobilizar a sociedade civil para combater à intolerância religiosa

Há 112 anos, no dia, 2 de fevereiro, o estado de Alagoas registrou o maior ato de intolerância religiosa do país, conhecido como Quebra de Xangô. Para marcar a data, o Governo de Alagoas, por meio das secretarias de Estado da Mulher e Direitos Humanos (Semudh) e da Comunicação (Secom), lançou nesta sexta em suas redes sociais a campanha "Xangô - Fé e respeito", para promover a conscientização e o conhecimento acerca das manifestações religiosas, fortalecendo o enfrentamento ao racismo religioso.

O Quebra de Xangô também serve como um lembrete da luta incessante contra a intolerância religiosa. Para o estudante de História e abian (filho de santo) do Axé Pratagy, Alan Cerqueira, celebra-se neste dia a força e a resistência das religiões de matriz africana. "Além de ser um dia em que clamamos por respeito às raízes afro-brasileiras, à ancestralidade e à diversidade que enriquece nosso país, é um momento em que reconhecemos a importância dessas religiões para nossa cultura e sociedade".


Além do intuito de enfrentar o racismo religioso, a campanha tem como objetivo divulgar os serviços da Semudh voltados para as vítimas desse tipo de violência. O Estado dispõe hoje de uma estrutura própria para apuração desses casos, a Delegacia Especial dos Crimes contra Vulneráveis Yalorixá Tia Marcelina, em homenagem ao nome mais importante das religiões de matriz africana em Alagoas. A Semudh também é responsável por acompanhar as denúncias e prestar assessoria jurídica.

Segundo Jonathan Silva, superintendente interino de Políticas para a Igualdade Racial da Semudh, essa é uma iniciativa estratégica do Governo de Alagoas, projetada para fortalecer a convivência harmoniosa entre diferentes crenças, especialmente valorizando as tradições de matriz africana. "Através das redes sociais, essa campanha busca ampliar o alcance e o impacto de suas mensagens de inclusão e respeito mútuo, visando uma sociedade mais justa e igualitária. O objetivo é educar, conscientizar e mobilizar a população contra a discriminação, promovendo um ambiente de tolerância e respeito às diversidades religiosas", explica Silva.


De acordo com o babalorixá Célio Rodrigues, a campanha celebra a memória do quebra-quebra, para que ele não volte a acontecer. "O vídeo vem para manter viva a memória desse evento, combatendo o esquecimento e promovendo o reconhecimento da dor e sofrimento da nossa comunidade. É uma forma também de educar e informar ao público sobre as nossas religiões, além de mobilizar a sociedade civil para o combate à intolerância religiosa", enfatizou o professor.


Histórico

Foi na madrugada do dia 2 de fevereiro de 1912 que o terror tomou conta dos terreiros de religiões de matriz africana. A Liga dos Republicanos Combatentes, agremiação política que fazia oposição ao governador da época, Euclides Malta, a mando do então candidato a governador Clodoaldo da Fonseca e seu vice, Fernandes Lima, invadiu 150 terreiros de Maceió, espancou, prendeu e matou os praticantes do candomblé, umbanda e outros cultos.

O episódio bárbaro levou a morte da yalorixá Tia Marcelina, uma das figuras mais importantes das religiões de matriz africana em Alagoas. Também provocou o fechamento de vários terreiros e dispersão de ialorixás e babalorixás - mães e pais de santo - para outros estados e o fim das expressões públicas das religiões. Os que ficaram no estado, continuaram praticando os cultos em silêncio, sob intensa repressão e medo. Em 2012, o Governo de Alagoas manifestou um pedido de perdão oficial pelo Quebra de Xangô.

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