Como um livro, as páginas da minha mãe são feitas de material poroso, ora flexíveis, ora incompreensíveis, ora claramente abertos e dispostos a serem lidos. Terão sempre o cheiro de perfume doce, que enche a casa de uma vontade de estar-se ali. Ela é folheável. Todas as vezes que olhei pra ela, querendo ou não, olhei para dentro de mim mesma. E dos seus olhos miúdos, quando saíam as lágrimas, eu, ainda pequena, chorava as minhas. De dentro dela saíram a alegria e nossos risos compartilhados. Minha mãe tinha seu jeito de dizer coisas sobre a vida, vivendo escassezes e vivendo farturas, e demolindo tristezas, e até por muitas vezes, atropelando as alegrias. Aprendi a vê-la sentada sob a luz de um abajur, lendo romances e, enquanto os lia eu a ela lia, decifrando-a. Estava ali uma mulher que sempre contava em casa, sobre os seus dias de parteira, as noções de um mundo para muito além da nossa casa. Um mundo de éteres, de roupa branca, de hospital e de sentimentos. Muitos sentimentos. Minha mãe escrevia em seus cadernos e sofregadamente, suas estações. Suas flores e sua primavera abriram pétalas para o meu jardim interior e me ensinaram a tradução humana da beleza, da amplitude e do que podem dizer as palavras e em como elas influenciam as cores do coração da gente.
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Essa belíssima crônica foi em homenagem a mãe da autora D. Cosete, considerada a "Mãe de multidão", que partiu no último domingo(22) para a Pátria Espiritual.
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