Decisão de atriz de retirar seios para prevenir câncer causa polêmica

Saúde

por Theodomiro Jr. - ASCOM - Santa Casa Maceió

Médicos alertam que o exame genético não identifica a grande maioria dos cânceres de mama

Desde que a atriz norte-americana Angelina Jolie revelou ao mundo que fez uma mastectomia profilática dupla (cirurgia para retirada total dos seios), aumentaram as dúvidas sobre o procedimento e sua utilização como método preventivo do câncer de mama.

A atriz optou por remover os seios para diminuir a probabilidade de desenvolver câncer de mama, após um teste genético ter constatado que ela é portadora de uma mutação genética hereditária no gene BRCA-1, que lhe dava 87% de chance de ser diagnosticada com a doença. Com a cirurgia, especialistas que acompanham a atriz afirmam que o índice caiu para 5%.

Devido à repercussão do caso, a procura de informações sobre a mastectomia e o teste genético aumentou consideravelmente em consultórios médicos como o do mastologista João Aderbal, que integra o corpo clínico da Santa Casa de Maceió e a diretoria da seccional Alagoas da Sociedade Brasileira de Mastologia.

O especialista alerta, no entanto, para o fato de que a mastectomia não elimina a possibilidade da doença ser desenvolvida, mas apenas reduz o percentual de risco. O médico explica também que o teste genético não precisa ser realizado por todas as mulheres, e sim por aquelas que já verificaram, através de um heredograma, que algumas parentes já apresentaram tumores nas mamas ou ovários.

?Se a paciente tiver casos de câncer na família antes dos 40 anos, particularmente envolvendo mãe e irmãs, é aconselhável realizar o teste. O mapeamento genético irá investigar se a pessoa é ou não portadora de uma mutação nos gentes BRCA-1 e BRCA-2. Se o resultado for positivo, fica confirmado que a paciente tem grandes chances de desenvolver câncer?, esclarece o médico. João Aderbal lembra que nos casos de cancer na família o rastreamento mamográfico deve iniciar 10 anos antes de quando foi confirmado o diagnóstico de câncer no referido parente.

93% dos casos de câncer em mulheres não são identificados por exame

Perguntado se o mapeamento deveria ser disponibilizado para todas as mulheres por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), João Aderbal explicou enfaticamente que não. O câncer mais comum entre as mulheres (93% dos casos) são do tipo esporádico, não identificável por meio de testes genéticos. ?Para este tipo de neoplasia, ou seja, para a maior parte das mulheres, o mapeamento genético é inócuo, sendo ?, respondeu o especialista.

Apenas 7% das neoplasias são hereditárias, e nesse segmento específico, apenas 35% têm os genes BRCA-1 ou BRCA-2 identificáveis pelo teste genético e, ainda, com possibilidade ou não de desenvolver a doença. É neste grupo que se inclui a atriz Angelina Jolie.

?Existem pessoas que possuem a mutação, mas não desenvolvem o câncer ao longo de sua vida, por isso a decisão de realizar a mastectomia de forma preventiva precisa ser uma decisão muito bem refletida pela paciente e discutida com o seu médico, afinal há fatores estéticos e psicológicos envolvidos quando o assunto é a retirada da mama?, ponderou João Aderbal.

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