Andar pelo Condomínio Rural Tigre é como estar em outra parte do Brasil e não em pleno Sertão Alagoano. O sonho idealizado pelo comerciante e industrial Domício Silva hoje é preservado pelos seus nove herdeiros de forma dinâmica, participativa e economicamente correta.
Era uma sexta-feira 21 de janeiro de 2010 em companhia do Dr. Roberto Salgueiro Silva, um dos condôminos, percorremos parte da fazenda e pudemos ver de perto a beleza do condomínio e a manutenção do sonho. Raul Seixas em suas loucuras disse certa feita: ?Um sonho que se sonha só é apenas um sonho, mas quando se sonha junto torna-se realidade.?
Apresentamos a seguir o histórico do Condomínio Tigre e o registro fotográfico que realizamos em Janeiro. Convém lembrar que hoje o verde é bem maior do que no mês de janeiro, devido as chuvas.
Nos primeiros anos da nova atividade, era pretensão do comerciante Domício adquirir outra terra, mas parece que o destino adiantou o processo: D. Sinhá Rodrigues, viúva do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha estava vendendo a propriedade que veio a ser a célula inicial da Fazenda Tigre. Acontece que Domício Silva fora funcionário de uma loja comercial de D. Sinhá, nos tempos áureos, onde aprendeu as primeiras lições de comércio, bem como teve aulas cotidianas de Civilidade. Com o passar do tempo o negócio não prosperou como se esperava ele continuou no trabalho, apesar de ser informado da falta de condições de regularidade dos vencimentos. Suportou esta situação até o limite possível de sua sobrevivência, quando se lançou como autônomo, comercializando com tecidos nas feiras; Nesta época seu transporte era uma moto, então conhecida como ?motor.? Anos após, por volta de 1954, já morando em Maceió, D. Sinhá fez questão que suas terras fossem vendidas a Domício Silva e assim aconteceu.
A fazenda Tigre situa-se entre a Camoxinga dos Teodózios e a serra da Camonga e é dotada de terras com alta fertilidade natural, apesar de ter uma topografia acidentada e bastante aflorações rochosas, características que não chegaram a limitar sua prosperidade. Sua área inicial era de 500 tarefas, sendo esta a unidade agrária da região, equivalente a 3.025 m², ou 0,33 ha. Com muito esforço e dedicação, sempre que surgia uma gleba vizinha à venda era adquirida e o novo cercado era denominado, como se fizesse uma homenagem ao vendedor, com o seu nome. Assim, até hoje temos os cercados do Emiliano, Antônio Júlio, Oliveira, João Paulo, Horácio, Pedro Bota, etc.
Se fossemos identificar Domício Silva como produtor, em termos de Extensão Rural, diríamos que se tratava de indivíduo ? altamente inovador tecnológico. Inciemos pela visita a Dr. Alfredo de Maia, com sua fazenda modelo em Cacimbinhas, hoje pertencente ao grande empresário e seu neto Emílio Omena, para adquirir um reprodutor Nelore ?Puro por cruza?, quando aquele nos falava: Domicio, o negocio é vaca de tostão e touro de milhão. Não é em vão que ainda na década de 60, ele havia adquirido um touro Nelore POI ( Puro de origem importado ) por CR$ 60.000.000,00 ( sessenta milhões de cruzeiros), antes da inflação corroer aquela moeda. Naquela época as raças bovinas predominantes na região não eram definidas. Os bois bons eram chamados ?casteados? e quanto maior a orelha, mais característicos. Na região de Batalha e Jacaré dos Homens, começavam-se a se formar bons rebanhos leiteiros, com a presença marcante do HPB ( Holandez Preto e Branco ) e alguns raros HVB ( Vermelho e Branco ) Logo em seguida, além dos reprodutores puros, surgia acanhadamente a Inseminação artificial, consolidando ?bacia leiteira? do Estado, fonte de genética de qualidade para todo o Nordeste. Mas nos outros municípios próximos essa evolução não se verificava.
Dr. Roberto Salgueiro mostra um dos tipos de Capim que é plantado e mantido no condomínio
Nesta época Domício Silva iniciava a implantação de pastagens artificiais, ou seja cultivadas. Plantou toda a propriedade com Capim pangola, que não resistiu a primeira grande estiagem ( seca ). Hoje ainda encontramos algumas ilhotas deste capim nas sombras dos juazeiros. Sem qualquer lamentação reiniciou nova tentativa, desta feita com grama africana, que perdura até hoje. Tentou outras variedades de capim, em menor escala, como buffel, o faixa branca, mas nada que se assemelhe a grama africana, em termos de resistência e produtividade para aquela área. Também implantou capineiras de corte à jusante dos açudes, o que serve de volumoso a ser administrado ao gado em períodos críticos, prática esta incrementada na administração dos seus sucessores. Outra prática também de grande relevância adotada nos últimos anos foi a ? estação de monta?, que proporciona uniformidade na produção de bezerros e evita parições em períodos críticos.
Do alto podemos ver os recursos hidricos do condomino. Nesta imagem três das cinco barragens existentes

Gado Nelore a principal atividade do condomínio

Os diques de contenção deixam o riacho totalmente intacto, sem o fantasma da erosão
Finalizando, sempre foi uma preocupação de Domício Silva a dificuldade de dividir a fazenda Tigre, como se divide uma terra de tabuleiro, por exemplo, que cada parte se assemelha as demais. Não daria certo qualquer divisão. Então consultou seu genro, amigo e companheiro Dr. Aurino Malta, sobre a possibilidade de transformar a propriedade em cotas, onde os herdeiros teriam o correspondente a 1/9 ( um nono ) do valor da propriedade e que só poderiam negociá-las entre si. Assim foi feito, o que cinco anos após sua partida foi regulamentado juridicamente como Lei dos Condomínios Rurais.
Com informações de: Roberto Salgueiro Silva e Floriano Salgueiro Silva
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