MORTOS VIVOS DO COTIDIANO!

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Quando criança, em horário noturno tinha medo de ir sozinho ao quintal de casa, cheio de pés de bananeiras, pois minha imaginação fazia acreditar nos mais variados personagens das estórias escutadas, estarem ali escondidas para me buscar. Com o passar dos tempos, considerei o viajar forma de domesticar temores, seguindo de alma livre e coração cantando. Foi assim que, literalmente, conheci o mundo.

Nesse pensara, já degustei gafanhoto e escorpião, tive uma cobra naja enroscada no pescoço, fui conduzido por elefante, camelo e llama em terras distantes, visitei lugares que fizeram a história da humanidade, mas a emoção de adentrar o Palacete de Conde Drácula, na Transilvânia, foi fantástica, sobretudo por aquele personagem, haver sido uma das razões de minhas fobias infantis.

Tudo começou na cidade velha de Brasov, em cujas artérias, durante a noite, pessoas não circulam como se estivessem se protegendo de grandes perigos. Em sua periferia encontra-se a fortaleza, antiga habitação de Drácula, na pessoa do monarca Vlad III da Valáquia, conhecido por, empalar mais de mil adversários de uma só vez até que estaca lhes atravessassem o corpo desde o anus até a boca, fixando-as ao chão, enquanto sua esposa, cortava os punhos de moças virgens somente para coletar o sangue posteriormente usado como cosmético. Ao adentrar aquela casa vampiresca, incorporei a lenda.

O ambiente era sinistro e, a cada passo, escutando o ranger do piso de madeira sob os pés ou me deparando com instrumentos de tortura, como a cadeira de pregos, esperava o surgimento, daquele que durante as noites gerou pânico a muitas gerações.

Se o Drácula é tido como uma figura fictícia, ao concluir a visita tive certeza de que os vampiros existem, sim! Não aqueles de sombrias figuras e olhos vermelhos, mas os modernos, os reais, representados por semelhantes que se aproximam, de forma singela, para, quando menos se espera, lhes estarmos entregando o rico pescocinho.

Saí do Castelo consciente, ser salutar doar o sangue por um projeto de vida, contudo imperioso dificultar com inteligência, ser sugado por quem sempre lhe pedirá mais, sem jamais retribuir. Tenho muito medo dos Mortos Vivos do cotidiano.

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