Aquele que, eternamente, era, veio, agora, a ser aquele que, eternamente, não era.
Deus não quis ficar, unicamente, Deus. Resolveu fazer-Se, também, criatura.
Quis dar-Se, quis oferecer-Se. Deus se dá a Si mesmo. Mas, dar-Se significa ter alguém diferente com quem se possa dialogar.
Esse alguém foi criado, capaz de um diálogo com Deus: o ser humano. Interessante é que, dentre os seres humanos, repousou o olhar divino sobre o judeu - Jesus de Nazaré. Nele Deus está, absolutamente, presente.
O ser humano, a partir de então, só terá sentido pleno, enquanto for sacrário de Deus.
Portanto, quando Deus Se autodoa, de todo, a alguém, estamos diante da encarnação divina, da encarnação de Deus que se faz gente, como nós.
E houve o sagrado momento em que Deus se aproximou daquela Virgem toda pura; bateu carinhosamente, à sua porta, pedindo-lhe para morar e viver na casa dos seres humanos. A Virgem respondeu: sim, existe lugar para Deus no meu ventre. Daí, por diante, começou a vida divina a crescer no seio de Maria.
Certa noite, completou-se o tempo. No silêncio da gruta, entre o arfar silencioso do asno e o mugir extenso e prolongado do boi, nasceu Jesus. Nasceu aquele que pessoa alguma jamais vira, Aquele por quem suplicavam os seres humanos.
Permanecendo o Deus que sempre era, assumiu o ser humano que nem sempre fora.
Não quis Deus ficar no seu mistério indecifrável. Deixou para trás Sua luz inacessível e veio para as trevas humanas, penetrando a fragilidade do homem.
Não quis atrair para dentro de Si a humanidade; ao contrário, deixou-Se atrair para dentro da humanidade. Penetrou o diferente para tornar-Se aquilo que, eternamente, não era.
Natal é a festa que nos revela, realmente, aquilo de que Deus é capaz. Pode Ele fazer-Se outro, isto é -- um ser humano, como um de nós, sem deixar de ser Deus.
São Francisco entendeu, mais que ninguém, a festa, do Natal, quando o Verbo de Deus se fez carne e a carne se fez Verbo: pedia que todos comessem, nesse dia carne, fartamente; que se jogassem sementes pelas estradas para que tivessem as aves do céu o que comer; que todos se lembrassem de que somos irmãos uns dos outros, todos se presenteando, mutuamente, porque Deus nos oferecia um presente sem preço: a doação de Si mesmo num menino que veio, continua vindo e virá sempre para conosco realizar nossos sonhos e desfazer as nossas ilusões.
ELE ESTÁ ENTRE NÓS
ReflexõesPor Dom Fernando Iório Rodrigues (In memoriam) 30/12/2024 - 01h 01min
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