QUEM VALE MAIS?

Crônicas

Por Luiz Antônio de Farias, Capiá

“De médico e louco todos nós temos um pouco”. Por minha conta eu acrescento: e um pouco de São Francisco de Assis, inclusive. De uma forma ou de outra cultivamos – exceto os eternos destruidores do universo – o hábito de proteger a fauna e a flora, dentro de nossas limitações, lógico. Por onde passo cultivo
a mania de plantar árvores, frutíferas de preferência. Costumo, também, presentear amigos com mudas de plantas das mais diversas espécies.

Por outro lado tenho uma afinidade muito presente com os animais. Além do gado e dos cavalos da propriedade, ainda dou guarida a gatos e cachorros. Pelo fato de nossa propriedade, no município de Olivença, estar situada à margem da rodovia AL-125, vez por outra sou “presenteado” com filhotes de gatos desgarrados, deixados no pátio da fazenda. Pacientemente vou distribuindo-os com interessados (tendo maior dificuldade com a distribuição das fêmeas) sem, contudo, deixar algum ao desamparo, em hipótese alguma.
Visto que tenho apego, também, por cães – tenho quatro, atualmente – aconteceu um fato interessante, digno de registro, em minha opinião. Apareceu na Lagoa do Rumo uma cadela desidratada, com a pele eivada de crecas num estado deplorável. Dispensei todos os cuidados necessários e, após sua recuperação física, corporal e sanitária, ela me recompensou com um parto de nove rebentos, os quais fiz a devida distribuição com pessoas da minha confiança, que deverão dar um tratamento digno a todos eles. Para minha tristeza, a cadela referida foi atropelada ao atravessar a rodovia e teve morte instantânea.

Tanto em Maragogi quanto em Olivença, costumo alimentar com frutas os saguis que por lá aparecem. Outro dia ao oferecer alimento a um grupo de primatas, na Fazenda Lagoa do Rumo, um filhote de mico foi atacado por um gato. Com muito esforço consegui resgatá-lo, com várias escoriações pelo corpo. Visto que eu estava de viagem para Recife, levei o animal e, em lá chegando, entrei imediatamente em contato com o IBAMA, quando fui informado de que deveria me dirigir à Guarda Florestal. Procedi à comunicação ao órgão recomendado e em menos de uma hora chegou a minha residência uma guarnição composta de quatro policiais, em uma viatura digna da SWAT (esta fui buscar no fundo do baú). Após ser instado a responder um extenso questionário, foi feito o recolhimento do referido animal.

Agora vejamos que paradoxo cruel: há pouco tempo aconteceu um crime no sertão de Alagoas, onde foi assassinada uma pessoa (cujos detalhes prefiro omitir), e seu corpo ficou prostrado no sol a pino, por quase dez horas, no aguardo da presença de perito, para o exame de corpo delito. O sagui ferido e o homem assassinado são igualmente criaturas de Deus. Quem vale mais?

Praia de Maragogi, janeiro/2015

Crônica extraída do livro “NOSSA HISTÓRIA TEM QUE SER CONTADA” (SWA Instituto 2021, p. 73-74)

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