EXPLORAÇÃO DO CORPO

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Recordo quando, em minha juventude, a liberdade de comportamento da turma jovem era restrita, pois para abordar garotas, tornava-se necessário quase um comício, com frases ensaiadas, hoje, as coisas mudaram, basta sentir vontade e está formado o casal, mesmo por pouco tempo, o suficiente para começar pelos finalmente.

Em tal época, propagandas ficavam apresentadas em cartazes colados às paredes, postes e árvores das avenidas.

O motel mais conhecido era o do filme Psicose, que deu fama a Norman Bates, de modo que, “quando a coisa rolava”, acontecia lá por detrás de uma moita, no banco dos carros ou encostado a um pé de coqueiro.

As meninas da Praça do Montepio faziam o maior sucesso, enquanto os candidatos, nos tempos de eleição desfilavam, sobre carrocerias de caminhões, falando em microfones que amplificavam suas vozes reproduzidas por autofalantes usados, tanto por circos mambembes como em parques de roda gigante instalados defronte a faculdade de medicina, lá no Trapiche da Barra.

Aos poucos as coisas foram mudando. Surgiram os outdoors com mocinhas exuberantes e homens depilados, tentando vender sapatos, roupas e até sonhos.

Outro dia, uma destas revistas masculinas de maior sucesso no país, trazia na capa belezoca feminina raiz, mostrando quase tudo.

Impressionei-me ao ver que na parte frontal de seu corpo, a “floresta amazônica” de outrora (que guardava tesouro trancado a seis chaves e meia), fora substituída pelo bigodinho de Hitler ou uma (somente uma) das sobrancelhas do comediante Zé Bonitinho, cobrindo meia banda da genitália.

Naquele tempo, as princesas eram sereias e cinderelas, hoje se apresentam como ingredientes das vitamina de frutas fortificantes: mulher melão, melancia, mamão, etc.

Mas é no embalo de vender sorrisos em ano eleitoral, que políticos ganham espaço na mídia divulgando suas imagens através da TV, rádio, internet, e até faixas, cartazes e panfletos de variadas espécies e tamanhos.

Ultimamente, enquanto martirizado por eternos engarrafamentos que enlouquecem o trânsito de nossa Maceió, tenho ofertado especial atenção às imagens que somos obrigados a olhar.

Nas plotagens fixadas em veículos, alguns candidatos parecem possuir mais dentes que uma boca normal pode conter; em outras, nas brechas de um sorriso tênue, podem ser vistas placas de tártaro, certamente ensejando mau hálito que até Deus duvida, denunciando que, nem para escovar dentes o cidadão da foto cumpre com os compromissos básicos que deveria assumir...Sem falar nas aftas, gengivas murchas ou cáries explicitas.

Na verdade, chego a imaginar vivermos em uma época onde as pessoas pensam ser o corpo uma fonte de lucro a qualquer custo: quer para vender serviços e produtos ou até para conquistar votos nem que seja atirando cadeira em adversários.

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