POLÍTICA, UMA CIÊNCIA DESGASTADA

Crônicas

Por Luiz Antônio de Farias, Capiá

Nas opiniões de diversos filósofos o termo política teve diversas conceituações. Segundo Hobbes “consiste nos meios adequados à obtenção de qualquer vantagem”. Por outro lado Russel afirmava ser “o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”. Sobre o mesmo tema Nicolau Maquiavel dizia ser “a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo”. Longe de ser um filósofo, nosso velho e querido pai, Zeca Ricardo, costumava dizer que política era “uma canalhice em que existem dois partidos: o que está roubando e o que quer roubar”. Esta assertiva tem algo a ver com o conceito de Hobbes, apesar de nosso genitor não ter tido nenhum conhecimento da existência do referido pensador.

Nota-se que desde o pensamento dos filósofos antigos, até a leiga definição de nosso pai, pouca coisa mudou. A honestidade, o zelo pela coisa pública, o compromisso com as promessas de campanha, o respeito à ideologia do partido e o cumprimento dos conteúdos programáticos previamente elaborados, são todos desprezados depois do pleito. O comportamento desejável, que
deveria ser regra, não passa de exceção.

O que mais se observa hoje em dia é percebermos a existência de candidatos alçados, à custa do voto do povo, a cargos voltados para promover ações em benefício da comunidade e, em vez disto, eles aproveitam o posto para se locupletarem, para auferirem benefícios para si próprios ou para os apaniguados. Pelas denúncias diárias, nos veículos de comunicação, a gente verifica que a safra atual de políticos, em todos os níveis (ressalvadas as exceções, que são raras), perdeu a vergonha de vez. Não raro acontecer é o povo se deparar com candidatos que antes de eleitos “não terem um pau pra dar num gato, nem o gato pra apanhar”, para logo em seguida formarem um patrimônio, capaz
de fazer inveja a empresários bem sucedidos, deixando os pobres mortais “chupando o dedo”, literalmente. Isto tudo “debaixo das barbas” do Ministério Público que, muitas vezes, deixa esses
canalhas incólumes, sem uma “Ave Maria de penitência”.

Talvez, movido pelo sentimento que nutria sua opinião a respeito da política, nosso pai sempre foi avesso a disputar qualquer cargo político-eletivo. Muitas vezes foi instado a mudar de opinião, através de convites, para enveredar pela carreira política, entretanto ele, invariavelmente, saía com algumas máximas, tais como: “estou ficando velho, não é doido não” ou “estou perdendo
o cabelo não é o juízo não”.

Na qualidade de filho, sou suspeito para enaltecer o caráter de nosso pai, até porque Dom Hélder Câmara costumava dizer que “elogio em causa própria é vitupério”. Todavia muito nos orgulham, as generosas palavras proferidas pelo nosso escritor Djalma de Melo Carvalho, a respeito do nosso genitor, em sua obra “CAMINHADA”: “seu Zeca foi um exemplo de humildade, bondade, decência, honradez e trabalho. O bom exemplo transfere- se para os filhos, reconhecidos homens de bem, e para outras gerações futuras, com certeza”.

Meu irmão primogênito José Geraldo, o Jota, após a aposentadoria do antigo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem-DNER, retornou à Santana do Ipanema, alimentando o sonho de candidatar-se a prefeito da terra natal. Amargou a primeira decepção quando, por ocasião do registro de sua candidatura, teve a ficha de inscrição do partido maldosamente extraviada,
segundo entendeu o pretenso candidato.

A ojeriza à política incomodava nosso pai de uma forma que, ao tomar conhecimento do projeto eleitoral do mano, reclamou a presença dele em nossa casa, com a finalidade de saber a verdade do fato. A abordagem foi feita de forma direta:

– Meu filho fui sabedor da sua pretensão de se candidatar a prefeito de Santana. Tem sentido essa história?

– É verdade, papai.

– Você já aprendeu a mentir? A tomar atitudes que possam comprometer sua honestidade?

– Não papai, respondeu.

– Ao trilhar por esse caminho, meu filho, você vai se deparar com situação em que não vai ter possibilidade de cumprir os compromissos assumidos, tomando atitudes que não condizem com as orientações que procurei passar pra todos vocês. Assim sendo, esqueça essa ideia. Isso não combina com nosso modo de vida.

Não precisa esclarecer que o sonho morreu no nascedouro. Aproveito esta oportunidade para render minha homenagem a Dr. Hélio Rocha Cabral de Vasconcelos e ao Sr. Ulisses Silva, prefeitos da minha terra e ídolos de minha infância/adolescência. Quanta saudade! “Do tempo de pardais. De verde nos quintais. Faz muito atrás. Quando ainda havia fadas.” Assim dizia o imortal sanfoneiro Sivuca.

Nos momentos atuais até parece que a dignidade, a honestidade e a vergonha caíram em desuso. É o que penso.

Recife, outubro/2014

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