IMERÍDIO HONORATO DOS SANTOS

Crônicas

Por Remi Bastos

Imerídio Honorato dos Santos ou simplesmente “Seu Merídio”,como era conhecido por todos de sua vizinhança, foi um homem sonhador que tinha como inspiração a própria vida. Criatura humilde, filho de pais analfabetos desprivilegiados do saber, que viam na enxada o instrumento capaz de arquitetar a fartura para o sustento da família. Apesar do ambiente cultural desconhecido em que vivia, Seu Merídio administrava um conhecimento extraído de sua mente profícua. Costumava dizer que a realidade era o retorno de um sonho e o sofrimento o salário do pecado. O sábio e pequeno senhor desconhecido da leitura fez de seus dias uma grande escola e buscou nela a chave do conhecimento, era um verdadeiro autodidata. Toda a sua vida foi ensaiada e dramatizada no palco das terras incansáveis da Fazenda Laje Grande, às margens do Rio Ipanema no sertão das Alagoas.
Seu Merídio costumava ao entardecer sentar-se em um banco de baraúna no alpendre da velha casa entremeada de taipa e alvenaria, onde passava horas contemplando o firmamento. Admirava a lua e as estrelas tremeluzentes no espaço infinito, e para cada uma tinha uma história a contar. Dizia que o céu esconde um mistério que o homem jamais desvendará por completo, e ai daquele que entrar no terreno de Deus sem que seja convidado por Ele. O homem é o limite da vida; o único homem que morreu e retornou à vida foi Cristo, portanto, o choro da morte e da tristeza fenece com o sorriso da alegria, dizia o pequeno sábio. Certo dia quando se banhava e pescava nas águas do Rio Ipanema, como costumava fazer nos finais de semana desde os tempos de menino, observou que sua rede já não subia carregada de peixes como antes, os mandis amarelos, as traíras e os tucunarés estavam desaparecendo, e com o passar dos anos viu o seu rio se encurtar, sedento, morrendo lentamente. Seu Merídio entristecido foi acometido de um mal, recolheu-se à sua humilde casa e, solitário em seu mundo, chorou pela última vez. Suas lágrimas puras como a brancura das brumas banhavam seu rosto, ao tempo em que reprisava sorrindo, através do pensamento, toda a felicidade que viveu e sentiu, estava chegando ao limite da vida. Pobre Imerídio Honorato dos Santos, Seu Merídio, morreu feliz, sorrindo, afugentando a tristeza que acometera os seus últimos anos de vida. 


Aracaju/SE, 08/05/2013.

Crônica extraída do livro LEMBRANÇAS GUARDADAS - SWA Instituto 2022 - Pg 91-92.

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