FLORADAS DE NOVEMBRO

Crônicas

Por Remi Bastos

Suavemente, o cenário da caatinga vai se modificando, embelezando o sertão com as floradas de novembro. As últimas chuvas se despedem do borralho que entristece, deixando como resposta a esperança metamorfoseada na vegetação que se renova. Do cume da Serra da Micro-ondas, o Cristo com os braços estendidos, irradia sua luz sobre o manto verde que se renova na vegetação nativa, agraciando o seu comportamento. O pau d’arco e as craibeiras distribuídas ao longo do Rio Ipanema, expõem a beleza de suas flores roxas e amarelas num convite à fecundidade da vida. O entardecer é anunciado pelos voos dos pássaros num toque de recolhimento, enquanto, ao longe, as flores da gameleira são embaladas pelo vento poente, ciumento, que tenta ocultar os raios do sol de suas pétalas róseas.
O silêncio crepuscular rege a sinfonia do Angelus no esplendor da Ave Maria, fazendo adormecer o Sertão, para despertar no alvorecer com o canto da juruti. Os dias se sucedem revelando em cada momento a ternura das flores. As bordas do velho Ipanema, no trecho que se estende da Barragem ao povoado Bebedouro, são embelezadas pelo fulvo das árvores dispersas, emitindo a sua pureza. Tudo isso faz brotar a inspiração através da evocação poética. A poesia sai da taciturnidade para singrar os anseios do trovador em seu canto jubiloso. A felicidade do trovador se renova no colorido das flores e no mundo que elas exibem pela doação de suas fragrâncias e cores. Ninguém chora as flores que doam, mas, sorrir as rosas que recebem. Em cada riacho temporário adormecido haverá sempre uma craibeira a velar, expondo os seus encantos nas efêmeras floradas de novembro.

Aracaju/SE, 11/11/2013.

Crônica extraída do livro LEMBRANÇAS GUARDADAS - SWA Instituto 2022 - Pg 79/80.

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