PRESERVAR OU MODERNIZAR, EIS A QUESTÃO

Crônicas

Por Luiz Antônio de Farias, capiá

Foto reproduzida do livro NOSSA HISTÓRIA TEM QUE SER CONTADA - SWA Instituto, 2021. pg. 85

Não concordo quando alguém, de forma melancólica, utiliza expressões como “no meu tempo”, “ah meu tempo”! Etc. Tenho um sentimento um pouco diferente. Dentro do possível, procuro direcionar minha imaginação para o momento presente ou, para ser mais radical, para o instante presente. Imagino o passado como um atributo que pertence à história. Nada obstante – visto que somos seres ciclotímicos – não fujo à regra e, vez por outra, me flagro acometido de lampejos bucólicos, acompanhados de um exacerbado saudosismo inevitável.

Faço estas observações para abordar um tema que me causa uma tristeza incontida e que gera conflitos de ideias, todas as vezes que o assunto vem à baila. Trata-se das modificações promovidas, ao longo do tempo, no casario de nossa Santana de outrora. As pessoas da minha contemporaneidade devem recordar que tempos atrás – a partir da Rua Arsênio Moreira em direção ao centro da cidade – as casas eram ordenadas de forma geminadas, muitas delas com fachadas de estilo colonial, a exemplo das moradias ainda existentes, na Rua Coronel Lucena, pertencentes às famílias de Quincas Ferreira e de Sinhá Azevedo.

Nossa cidade, de então, dispunha de um rico sítio histórico que começava na Praça do Centenário e se estendia até a antiga residência do Cônego José Bulhões (hoje completamente destruída) que ficava localizada na divisa do centro com o bairro da Camoxinga. Respeitadas as devidas proporções, nosso patrimônio colonial, hoje descaracterizado, nada tinha a dever às cidades históricas de Olinda e do Recife Antigo, como também a Ouro Preto, Congonhas do Campo e Sabará, em Minas Gerais. Nesse rol pode ser incluído, também, o Pelourinho em Salvador, além das cidades alagoanas de Penedo e Piranhas, esta devidamente restaurada e caprichosamente conservada, tombada pelo IPHAN, graças à ação de pessoas que se preocupam com a história.

Com relação a nossa realidade não houve a devida preocupação, por quem de direito, em manter conservado nosso acervo onde existiam prédios históricos, calçamentos de pedras
rústicas (só vistas em Ouro Preto) e a imponente Praça da Matriz, com seus monumentais pés de fícus e seus bem cuidados canteiros de flores. Atualmente só nos restam, do antigo patrimônio, a casa onde funciona o Museu Darras Noya, o sobrado vizinho à Matriz de Senhora Santana, a casa pertencente à família de Benedito Nepomuceno, o prédio da Biblioteca Municipal e o antigo solar do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha, mesmo assim com as fachadas mutiladas, em sua maioria.

Se as modificações estruturais introduzidas, ao longo do tempo, foram mais importantes do que a manutenção do patrimônio histórico, fica a critério da opinião de cada um. No meu caso, quanto bate a saudade, só me resta recorrer aos registros fotográficos, recursos que invariavelmente deixam meus olhos lacrimejantes.

Acho que estou sentindo a implacável ação do tempo. Ficando velho, pra ser mais preciso. Fazer o que?

Fazenda Lagoa do Rumo – Olivença, junho/2015

Crônica extraída do livro “NOSSA HISTÓRIA TEM QUE SER CONTADA” (SWA Instituto 2021, pg. 81/82)

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