No mundo, outras crianças:
"¿Tienes alma?
"Do you have a soul?
"As-tu une âme?
"Hai un'anima?
"Habe ..." /> No mundo, outras crianças:
"¿Tienes alma?
"Do you have a soul?
"As-tu une âme?
"Hai un'anima?
"Habe ..." />

MENTIRAS POR VERDADES

Poesias

Por Marcello Ricardo Almeida

A criança pergunta ao adulto:
"Você tem alma?"
No mundo, outras crianças:
"¿Tienes alma?
"Do you have a soul?
"As-tu une âme?
"Hai un'anima?
"Habesne animam?"
Busca-se resposta na janela,
Fim da resposta ante a tevê.
Segue em outras línguas 
Mesma, merma pergunta,
No velho carretel de linha.

Sob as palmeiras de ouricuris,
Velha rede balança nas Areias.

Imortais costureiras
Costuram a cidade. Defronte
Uma janela descostura-se
Feito o arado que ara pedras
Em terra areenta.
Uma irmã borda
No tecido a vida
Linha a linha, neste diapasão:
 
“Nós queríamos cobrir você de presentes,
“Disseram os vivos, imóveis, ante o fim.
“Nos jogarmos aos seus braços quais lamentos.
“Por ora, só nos restavam opaco e breve cortejo;
“Vê-lo transformar-se em cinzas. A matéria retornava,
“Espalhada a matéria em sertanejos cemitérios?”
 
Míticas fiandeiras,
Fiandeiros místicos
Na costura defronte
Uma janela da casa.
Adiante, irmã borda
Num tecido a linha
À vida linha a linha. E na sala escura,
Cloto, Láquesis e Átropos.
No bate-papo, estas irmãs
Riem, gargalham e se divertem.
Compartilham WhatsApp.
Trocam mentiras por verdades.

A fiandeira Cloto presa à roca,
Zela Láquesis pelo fio que traça,
Corta Átropos, na cega fúria, o fio.

No sítio Gravatá, em Santana,
Planta-se feijão-de-corda na roça.

A fiandeira Cloro presa à roca,
Zela Láquesis pelo fio que traça,
Corta Átropos, na cega fúria, o fio.
 
“O facho já não jaz aceso mais.
“O escuro preso ao denso breu.
“A vida sem luz ora vive no caixão.
“O corpo, descarnado, só ossos.
“As mãos postas, boca sem ósculos.
“A mortalha, as flores por oração.
“A tampa do ataúde em pé ao lado.
“No café frio, os ateus e agnósticos.
“Os incrédulos, in vita aeterna, oram.
“Lentas gotejam as horas em pulso analógico.
“Célere passa o tempo digital diletante
“Nos dedos de quem conta no rosário as contas.”
 
Naquela rua de invenção,
Os pregoeiros anunciam
Mentiras novas por velhas verdades.

Estão as Moiras na grega sala:
Riem, divertem-se, gargalham.

Competência, prima das Moiras,
Mobiliza dia a dia dizeres tantos
Com conceitos e procedimentos,
Ora elabora e reelabora. E como
Vive com faca tatuada no peito?
E habilidade, uma parente outra,
Com tatuagens em todo o rosto,
Pensa ao praticar, reflete ao agir
Na maravilhosa e inventada rua.

Na grega sala estão as Moiras:
Riem, divertem-se e gargalham.

Quem resolve, porém, demandas
Ainda as irmãs Moiras são 
Demandas complexas, no sertão.

Comentários