ASSISTOLIA

Crônicas

Por Jeno OLiveira

O nome é esquisitíssimo e mais parece com um procedimento de extração de cisto; embora, antes fosse. Raras, raríssimas são as pessoas que nunca tiveram um. Aliás, o cisto é quase como a dor da saudade: ninguém ou quase ninguém escapa dele. No Brasil, onde as notícias políticas são comumente tenebrosas, mal se dar tempo para escrever crônicas liricas ou humorísticas – minha única utopia - pois todo santo dia nos decepcionamos com os noticiários que parem em Brasília, a terra de JK que custou os olhos da cara no bolso do trabalhador brasileiro. Quando as decisões macabras são atenuadas no congresso, elas logo ressuscitam na corte suprema, geralmente por decisões monocráticas de algum dos 11 ministros pagos para servirem a população, mas fazem justamente o contrário.

Peço mais uma vez permissão ao leitor para descrever algumas das palavras de um grande brasileiro vivo, o Padre Paulo Ricardo, a quem devo parte de minha conversão ao catolicismo, e aquele que tem sido um herói didático contra as tantas aberrações ideológicas que burocratas infortunados querem a todo custo transformar em leis. Expõe ele em um vídeo publicado em suas plataformas digitais: “Um procedimento médico proibido para animais. Ou seja, o Conselho Federal de Medicina Veterinária proibiu, há 12 anos, que se utilizasse um procedimento para eutanasia de animais, porque ele é cruel demais. Pois bem, esse procedimento cruel para os animais, pode ser usado agora no Brasil para matar crianças”.

Os momentos macabros de nossa história recente nunca foram tão sombrios como este - acredito. O procedimento do qual o iluminado Padre Paulo se refere, se chama assistolia fetal. E o que é isto? É um procedimento deliberado para interromper uma gestação, que envolve a injeção de substâncias como cloreto de potássio diretamente no coraçãozinho do feto para interromper propositalmente seus batimentos cardíacos. Muitas vezes essa injeção precisa ser repetida, já que nem sempre na primeira tentativa o médico consegue acertar o coração do bebê, que pode sujeitar-se a levar de uma a não sei lá quantas furadas de agulha. Imaginou a tortura que os que se dizem contra a tortura querem submeter bebês indefesos e inocentes?

Há poucos dias de escrever esta crônica, a assistolia fetal tinha sido autorizada pelo STF como método lícito de abortamento humano. A prática seria realizada em bebês de 5 a 9 meses de gestação, ainda no ventre materno. Logo lembrei-me do dia que ouvi o fluxo sanguíneo do meu primogênito no seu 4º mês de vida. A emoção é inarrável. No vídeo, o missionário ainda conclama a todos os brasileiros vivos que ajude a impulsionar o Projeto de Lei 1904 de 2024, que punirá como homicídio o aborto entre o período de gestação já mencionado neste paragrafo.

Em primeiro lugar: por que ministros da corte suprema legislam sobre casos como esse? Aliás, por que legislam? Se nenhum deles tiveram votos para representar uma população hegemonicamente cristã e a favor da vida em sua concepção? Em segundo lugar: por que um precedimento proibido em animais seria permitido em seres humanos? Em terceiro lugar: por onde andam os ambientalistas e defensores dos direitos humanos, que gritam, esperneiam e se descabelam por um ovo de tartaruga e se calam para crueldades desumanas como esta? E por último; por onde anda a população hegemonicamente cristã que não se levanta em sua quase totalidade contra esta aberração dos infernos?

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