Comecei a carreira bancária no Banco do Brasil, em minha querida e eterna Santana do Ipanema. Dentro dos meus planos, ali permaneceria até quando me casasse e quando os filhos que viessem a aparecer, crescessem e necessitassem de estudos mais aprofundados. Então solicitaria transferência para um centro mais adiantado, com maiores recursos acadêmicos.
Contrariando minha expectativa, fui indicado pelo Banco para exercer uma função de maior relevância, na agência de Barreiros, Pernambuco. Foi um impacto emocional muito forte, todavia a decisão era muito importante para minha trajetória funcional.
Naquela cidade permaneci um pouco mais de um ano, porque foi criado, pelo Banco, o Centro de Processamento de Recife – órgão existente, até então, em Brasília, em São Paulo e no Rio de Janeiro – e fui designado para compor o quadro daquele novo segmento técnico.
O período em que fiquei em Barreiros criei forte afinidade com a praia de São José da Coroa Grande, a ponto de ao chegar a Recife, com o apoio do amigo Humberto (Sebo), reunir vários conterrâneos e alugar uma pequena casa à beira mar, naquela cidade praiana. O grupo era composto pelos idealizadores e complementado por Ruth, Régia, Rosiene e Zilma (filhas de seu Josias Carnaúba), César Vital, Hiran e Francisco José, o Chico (filhos de Bartolomeu) e Zé Ormindo. O Chico, um garoto na época, era o “ivedor” – encarregado de buscar – no linguajar do “neologista” Ademir Carvalho.
No cumprimento de suas funções o Chico, dirigindo minha Brasília (top de linha na época) colidiu com uma criança (na verdade a menina vinha correndo e bateu no carro, conforme depoimentos de testemunhas), num choque sem maiores consequências.
Isto me levou a comparecer à delegacia – totalmente entregue ao vício da embriaguês – onde o delegado afirmou que “entregar chave de carro a menor era um ato de irresponsabilidade”. Fiz ver à autoridade que o novel motorista era “de menor”, mas dirigia com mais responsabilidade do que muitos profissionais que viviam cometendo barbaridades naquela cidade.
O policial quis se aborrecer, a princípio, mas os ânimos foram serenados e tudo “terminou em pizza”, como é normal acontecer. Numa dessas idas a São José da Coroa Grande fez parte do grupo uma garotinha morena, muito bonita, que depois vim saber que se tratava de Vitória, filha caçula de Bartolomeu, proprietário
da Casa O Ferrageiro, em Santana do Ipanema.
Numa manhã, antes de sair para a praia, coloquei uma exuberante manga rosa no fundo de um isopor e a encobri com gelo “até a tampa”. Pensei que não houvesse a menor possibilidade de ela ser encontrada por outrem. Ledo engano. Ao retornar observei aquela garotinha saboreando uma apetitosa manga rosa. Fui direto ao isopor e notei a ausência do referido fruto. Entendi, de imediato, quem fora a responsável pelo rapto. Bem diz o ditado popular: “quem guarda com fome, o rato vem e come”. A garota cresceu, ficou mais bonita ainda, mas continua sendo, para mim, a “menina da manga”.
Praia de Maragogi, janeiro/2015
(*)Crônica publicada no livro "NOSSA HISTÓRIA TEM QUE SER CONTADA" - 2021 - SWA Instituto Editora - Santana do Ipanema - pg. 61-62
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