PROFESSOR, UM HERÓI INJUSTIÇADO (*)

Crônicas

Por Luiz Antônio de Farias, capiá

Prendeu minha atenção, nesta semana, o programa “Batee Rebate” do competente comunicador Geraldo Freire, da Rádio Jornal do Comércio. O assunto abordado versou sobre a situação atual do professor, em nosso país. O educador entrevistado deu a entender que, nada obstante continuar sentindo orgulho da profissão, o desgaste proporcionado por diversos fatores vem tornando a profissão inviável. A principal preocupação resulta da falta de respeito demonstrada pelos alunos, muitas vezes com a total cobertura dos próprios pais. A remuneração aviltante também contribui para obstaculizar o exercício da função.

De repente passou um verdadeiro filme na minha cabeça. As minhas lembranças retroagiram ao tempo de infância, no Riacho Grande (hoje Senador Ruy Palmeira), época em que, na sala de aula, a régua e a palmatória “falavam mais alto”, sem contar com o beliscão da professora, vez por outra. Ainda tinha um
agravante. Se chegasse ao conhecimento do pai alguma travessura praticada na escola, o “cancão piava”, literalmente. A despeito dessas “torturas” sofridas pelos alunos da nossa geração, nunca foi registrada a necessidade de acompanhamento psicológico nem, tampouco, registro de desvio de conduta.

Em tempos de outrora, a figura do professor impunha mais respeito. De um modo geral os alunos demonstravam uma verdadeira veneração pela imagem do educador. Ao longo da minha vida colegial tive o privilégio de contar com excelentes mestres. Sem querer cometer injustiça com os demais, permita-me citar como exemplo o professor Alberto Agra que, pela sua austeridade, proporcionava um silêncio quase sepulcral na sala de aula, quando nela adentrava.

Santana do Ipanema, em décadas passadas, se ressentia de uma grande carência de professores. Restava à administração do Ginásio Santana contar com a magnanimidade de alguns funcionários do Banco do Brasil, para suprir a deficiência. Vale ressaltar que a abnegação desses baluartes tornava-se mais dignificante porque não havia compensação financeira para o exercício desse mister.

Com relação ao assunto, recordo-me de um fato inusitado que aconteceu com o professor Marcos Cintra, funcionário do referido banco. Determinado aluno quis fazer deboche em uma de suas aulas, quando ele tomou uma atitude não muito didática. Bateu com a palma da mão esquerda no muque (bíceps) do braço direito e arrebatou: “olhe mocinho, aqui sou professor mas lá fora sou homem. Tenha cuidado que você já está bem “taludinho”. Tenho uma estima especial para com o Marcos, por conta do respeito e da admiração que ele dispensava por “seu” Zeca Ricardo, meu velho, querido e inesquecível pai. Obrigado, meu amigo.

Recife, agosto/2015

(*)Crônica publicada no livro "NOSSA HISTÓRIA TEM QUE SER CONTADA" - 2021 - SWA Instituto Editora - Santana do Ipanema - pg. 93/94.

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