JULGAMENTO OU RÓTULO?

Crônicas

Por Padre Adauto Alves Vieira

Em questão de julgarmos as pessoas, somos peritos.

As pessoas, na sua maioria, apresentam-se para nós muitas vezes como bizarras, esquisitas. Às vezes elas cruzam com você, mas sequer lhe dão um "alô" ou um simples "oi". Tratam-lhe com certa indiferença. Mas num outro dia já são capazes de lhe dar um aceno; na manhã seguinte já lhe cumprimentam com um bom dia, vez por outra, com um leve sorriso.

Todavia, o mais surpreendente em meio a isso é quando menos se espera, numa necessidade, aquela pessoa a quem julgávamos com um ar de esquisitice, vem-lhe e estende a mão, num gesto de cordialidade, para ajuda-lo. É num momento como esse que caem por terra nossos preconceitos e prejuízos acerca daqueles ou daquelas, os quais rotulávamos tanto como chatas ou até mesmo antipáticas.

Que possamos mudar nossa maneira de avaliar as pessoas antes de julgá-las, de tratá-las com nossos preconceitos muitas vezes desdenhosos, pois elas poderão nos surpreender, quando menos esperarmos, mostrando-nos gentileza ou cordialidade num momento de uma grande necessidade quando os outros de quem tanto se esperava chegam a faltar-lhe.

Nunca julguemos o irmão sem antes conhecê-lo e conviver com ele. Reza um princípio filosófico, na boca de nossa gente simples prolatado que diz: "Quer conhecer o outro? Coma um quilo de sal junto com ele, sentado â mesma mesa". Noutras palavras, aprenda a conviver. Afinal de contas, "viver é conviver". Mas só conviver não basta. "É preciso cooperar com os outros".

Conceda-nos Deus a graça de um dia podermos enxergar nos outros o lado bom do qual estão impregnados de certa forma os seus corações! Deste modo, com a nossa mente e o nosso coração purificados, aprendamos a vislumbrar os nossos semelhantes com certa pureza, fazendo valer aquele relevante pensamento de São Paulo, apóstolo, expresso na sua epístola a Tito: "Para os puros, tudo é puro" (Tt 1,15). Numa palavra, chega de ver a maldade onde ela não existe! Ao contrário, extirpemo-la do imo de cada um de nós próprios, "o mundo precisa de vidas, limpas, de almas claras, de inteligências simples".

Cogitemos bem sobre tal realidade sem perda de tempo. Cumpramo-la, desde já. Espero não ser tudo isto uma simples quimera ou apenas um desiderato.

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