Morte não alcança a história de uma escritora santanense (*)

Crônicas

Por Marcello Ricardo Almeida (**)

Quem era a escritora? Maria do Socorro Farias Ricardo. Filha de Iluminata Farias Ricardo e José Ricardo Sobrinho. Nascida em Santana do Ipanema, AL, no dia 4 de novembro de 1940. Seu pai era maestro, compositor, instrumentista.

Nasceu em seu lar, a escritora santanense, em casa próxima à igreja da padroeira Santana, era segunda-feira. Veio à luz pelas mãos de uma parturiente, amiga de dona Lu, a sinhá Marica, mãe de Amélia Cavalcanti. Iluminata, a quem a cidade conhecia por dona Lu, viria a ser sogra de um dos filhos de dona Amélia. Maria do Socorro Ricardo, conforme foi notícia no jornal Gazeta de Alagoas, este domingo casou-se com José Cavalcanti Almeida. E o Brasil vivia a bossa nova.

Voltada a escrever sobre Santana do Ipanema, Maria do Socorro Ricardo dedicou-se cantar em prosa e contar em versos a sua cidade. Sempre acreditou que a parceria entre os intelectuais santanenses fortaleceria a educação e a arte sertanejas.

Amiga da leitura, especialmente da Bíblia, era defensora de escolas que promovessem a leitura como a sua função principal. Não conseguia conceber as escolas sem o hábito da leitura.

Pesquisadora dos acontecimentos de sua época, registrava em cadernos. Tinha o costume de manter viva em sua caligrafia a mudança de comportamento que observava nas pessoas com o tempo, associando-a com a tecnologia.

Além de livros, Maria do Socorro Ricardo publicou em redes digitais. Criou “Santana do Ipanema em versos livres” e “Diálogos com Santana do Ipanema”. Em suas palavras, a arte era a expressão das emoções; escritor/a era escritor/a quando criação superava autoria. O trabalho artístico, o trabalho intelectual do/a escritor/a, consolidava-se no momento em que o feito criativo fosse além do que quem o fez, assim avaliava Socorro.

Entusiasta da criação de academias de letras, dizia aos conterrâneos que mantivessem presentes as memórias na cidade. Para ela, a história iconográfica, os registros, os documentos, museus, bibliotecas, as feiras de livro, os concursos literários eram luzes a iluminarem todas e todos. O que fazia uma cidade brilhar era o número de seus leitores.


Ela faleceu este ano em Blumenau, SC, no dia 3 de setembro. Costumava dizer que o poeta era quem vencia a morte; era um colecionador de paisagens o poeta. Muitas vidas eram arriscadas por isto – a poesia – a maior força criativa do universo. Há cem anos, muitos artistas estavam vivos; e, hoje, estes artistas não viviam mais senão em sua arte. Talvez minha arte vulnerável fosse vida tão somente. As proporções que tomavam certos poemas eram inesperadas feito o pão na mesa, o cheiro, o gosto, o preço amargo.

(*) No cenário literário sertanejo, a escritora Maria do Socorro Farias Ricardo presenteou
Santana do Ipanema com dois títulos: “José Ricardo Sobrinho: um mágico da música” (1997), e
“Diálogos com Santana iconográfica...” (2009) cuja abordagem no campo historiográfico é a
representação de suas pesquisas com estudos e descrições de sua bem-amada terra maternal.

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(**) Marcello Ricardo Almeida – reunindo textos esparsos deixados pela escritora Maria do Socorro Farias Ricardo como legado à história da literatura santanense.

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