SIENA – A CAIXINHA DE LEMBRANÇAS

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Recordações, lembranças, fotografias, recortes de jornal, cartas, bilhetes, agendas e diários. Anos de vivência que cabem em uma única caixinha de papelão já amarelado pelo tempo...

Todas as vezes que a encontro bem guardada em local seguro, memorias sem fim desfilam diante dos meus olhos e então fatos que já nem mais lembrava, porém estão ali armazenadas, eternizadas de alguma forma, são resgatados. É quando paro para pensar o quanto fui feliz e a enormidade que evoluí de uns anos para cá.

Dias atrás visitei Siena, na Itália e ali chegando lembrei da minha importante arca de recordações, dentro da qual ainda mantenho o ingresso de entrada ao cinema São Luiz em Maceió, onde acompanhado por Rostand, meu pai, assisti ao filme “O Espadachim de Siena”.

À época havia completado talvez sete ou oito anos de idade e a violência da película, com tantas mortes acontecidas e sangue jorrando em abundância, não somente me fez deixar a plateia antes da metade da apresentação, como marcou para sempre o meu imaginário, dificultando inclusive o sono pacífico por algum tempo.

Anos depois fiz questão de repetir a experiência em inúmeras oportunidades, passando a conhecer com detalhes cada uma de suas passagens e os locais frequentados pelos atores naquela cidade fortaleza.

E então, nos exatos locais onde aconteceram algumas gravações das cenas que tempos atrás, tanto me amedrontaram, quer seja caminhando pela Piazza Del Campo, reconhecível por sua forma de D e inclinada como um anfiteatro ainda hoje embelezada pela Torre de Mangia com 102 metros de altura e a Fonte Gaia toda esculpida em mármore ou sentado em uma das cadeiras da catedral local, o Duomo, construída entre os anos 1251 e 1265, encantado com os capitéis das colunas da parte da frente da nave, esculpidos com bustos de cento e setenta e dois papas, começando por São Pedro até Lucio III, trinta e seis imperadores, com o vitral redondo do coro, representando a Última Ceia preparado em 1288 a partir de desenhos de Duccio, o mais influente artista da região em sua época, pensei na magnitude da existência.

Ainda postado no mesmo ambiente, repassei em minha mente o conteúdo do filme um dia assistido, não somente repleto de aventuras mas também de valores morais, que contava história acontecida na Toscana do século XVI, quando o herói da trama, Thomas, foi contratado pelo Duque Don Carlos, para proteger sua noiva, uma mulher fria e arrogante.

Fiz questão de permanecer uma noite naquela pequena cidade italiana, que pouco tem a conhecer se comparada a Roma, Florença ou Veneza, e tal desejo brotou devido ao acontecimento experimentado muito tempo atrás e que inicialmente em mim causou repugnância e medo.

Imaginei, quantos eventos nortearam meu cotidiano, uns tiveram pequena influência, outros deixaram marcas e alguns em nada contribuíram. Mas existiram aqueles que me ofereceram a oportunidade de no futuro fortalecer a maturidade. Algumas delas se foram outras permanecem pulsantes. Vida que segue, é o passado guardado em minha caixinha de lembranças, se fazendo presente sempre.

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