O MENTIROSO LÍRICO

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras.

Psicólogos classificam mentirosos em quatro tipos muito específicos: O eventual, é aquele que solta uma ou outra inverdade. O frequente, invariavelmente incorpora o mal costume à sua fala. O natural, consegue assumir o espirito do artista pois quando em cena, ninguém distingue o real do falso. O profissional, consegue fazer com que todos acreditem no que diz, menos ele.

Eu acrescentaria a esse rol, a categoria do mentiroso lírico, bem representado pela figura de Jesualdo, cujos atos, nunca buscam prejudicar semelhantes, nem mesmo Generosa, mas externam como são ilimitadas as ideias de um ser racional.

Adepto das aventuras, namorador inveterado, Jesualdo caracteriza-se como um personagem adepto do otimismo, e sempre crédulo no porvir adora buscar novas alternativas para viver.

Outro dia me telefonou dando notícias estar residindo próximo a divisa com a Colômbia, em cidade segundo ele onde: quem compra carro é rico, toma um copo de cerveja é alcoólatra, se casar rápido é porque a mulher está gravida, separando na certeza tomou chifre, saindo de casa e chegando tarde está aprontando, permanecendo todo o dia dentro da residência, é taxado de sofredor e inoperante.

Questionando-o se estava gostando da experiência, ele respondeu: “adorando, uma vez na atualidade só tenho a saúde para cuidar, pois da minha vida o povo já toma conta.”

E foi adiante, contando estar envolvido com apicultura, optando pelo cultivo do valioso própolis vermelho, e recentemente tinha realizado uma experiência inovadora, estava planejando exportar o produto para a Ucrânia, nesse período de guerra.

Em segredo falou haver conseguido viabilizar o cruzamento de uma abelha africana com vagalume da Amazônia, e agora estava produzindo as vinte e quatro horas do dia, pois o resultado do acasalamento, gerou espécime possuidora de pisca pisca na cauda, gerando claridade suficiente que possibilita a colheita de mel também durante a noite.

Comentou estar pela primeira vez na vida, já há mais de seis meses sem um namoro novo. Morria de medo da língua dos vizinhos, sendo a única diversão manter demorados papos com um senhorzinho possuidor de nome bem sugestivo: Horinando Gilete Dias Broxado. Autor de vários livros, verdadeiro contador de histórias da época em que ônibus se chamava sopa.

O senhor Broxa, para os íntimos, apesar da idade avançada era possuidor de uma memória fantástica a ponto de reviver detalhes apimentados de muito que fizera em priscas eras. Perto dele, murmurou Jesualdo, me considero verdadeiro santo.

Certa vez o Senhor Broxa, com ar circunspecto, falou que na atualidade conseguira passar a pensar somente usando a cabeça de cima, pois lhe gera menos problemas.

Independentemente dessa saudade de um passado distante, o senhor Broxa descrevia tão bem as aventuras eternizadas em sua mente, que o odor de tudo por ele cheirado nas mocinhas, impregnava as narinas de Jesualdo que enquanto fixamente mirava os olhos do seu novo herói, em êxtase sonhava por ele vivido tais momentos eróticos.

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