ANIVERSÁRIO DE 125 ANOS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS

Crônicas

Por M. RICARDO-ALMEIDA

Sede da Academia Brasileira de Letras (ABL) no Rio de Janeiro. Foto: Wolfhardt / via Wikimedia Commons / CC-BY-SA 3.0

Literatura é percurso. Academias de letras existem por causa da literatura. Enfim, o que é este percurso?

Aprende-se nas escolas que escritores são artistas das palavras. Escritores são escritores, não por se dizerem escritores; são, pois, os pares os reconhecem escritores. E quando se fala em dramaturgia, inevitável não se referir a Nelson Rodrigues; falar em poesia é associá-la a Castro Alves; quando o assunto da vez é prosa, ou academia de letras, surge invariavelmente a assinatura de Machado de Assis.

Quem ainda não leu “O alienista”, leia; se leu, releia. Quem ainda não leu a “Teoria do medalhão”, leia; se leu, releia. Escritos por Machado de Assis, que ajudou na criação da Academia Brasileira de Letras (20 de julho de 1897).

Consolida-se, o que se conhece como literatura brasileira, na época deste autor. Mestre da técnica narrativa e da ironia.

Com este par de títulos machadianos se conhece o que é a literatura do pai de Capitu. Não só isto, se conhece mais sobre os gêneros discursivos literários, o conto do criador de “Memórias póstumas de Brás Cubas”.

Estas memórias dedicadas ao verme que primeiro roeu as frias carnes de seu cadáver como saudosa lembrança póstuma. Narrador da existência partindo da morte, no enredo de quem não teve filhos pois não quis transmitir a nenhuma criatura o legado da miséria. Neste ponto, como escritor, o Romantismo foi substituído pelo Realismo.

Bruxo do Cosme Velho, ao escrever a “Teoria do medalhão” e “O alienista”, fez o que fez aquela criança ao pontar à multidão sob o efeito mágico da hipnose a nova roupa do Imperador. E este ano a Academia Brasileira de Letras festejava o aniversário de seus 125 anos.

Em “O Alienista”, o que falou Dr. Simão Bacamarte? “A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.” Logo após estas palavras, soube-se o que houve e de como Itaguaí ganhou uma Casa de Orates. Já em “Teoria do medalhão” conclui-se “A República” de Platão suplantada por “O Príncipe” de Maquiavel.

Na primeira aula de Língua Portuguesa, convém perguntar quando o aluno leu “O Alienista” ou/e a “Teoria do medalhão”. Acaso se surgirem dúvidas, convém dizê-lo que há respostas encontráveis na Base Nacional Comum Curricular, com fulcro na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na Constituição da República Federativa do Brasil.

Literatura em sala de aula é um exercício de mediação da cidadania. Não é a literatura, por ação de quem fá-la, que se torna política; literatura é política.

Na política educacional, direito de todos e dever do Estado (et alii, art. 205 da Constituição de 1988), a literatura é uma ação inclusiva. Academias de letras sabem o valor da literatura na escola como significante em seu significado.

Quem constrói literatura, palavra com origem em littera com significado de letra, é conotação, que difere da denotação; são aspectos subjetivos diferentes dos aspectos objetivos; é a linguagem metafórica que não coincide com a literal; é a forma, não a informação; e, principalmente, a linguagem poética desde os textos atribuídos a Homero. Artistas das palavras não se confundem com quem escreve, o jornalista também escreve e também outros escrevem.

Escritores de literatura, exemplo de “O Alienista” e “Teoria do medalhão”, não são escritores por escreverem, são intradiegéticos, ou seja, personagens dentro dos textos com seus contextos em tinta e papel. Em gêneros literários poesia, drama ou narração, conceituados por Aristóteles, em “Poética”.

Na academia de letras e artes, Santana do Ipanema, vocacionada à poesia e à crônica, preserva a memória literária do município. Ao final deste percurso, literatura é a arte da intertextualidade como uma praça é o pulmão de uma rua.

M. RICARDO-ALMEIDA

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