TRAPIÁ

Crônicas

Alberto Rostand Lanverly - Presidente da Academia Alagoana de Letras

Outro dia ao pensar em minhas próprias experiências, questionei-me o que é mais difícil: sentir uma angústia que não se sabe o nome, de onde veio, para onde vai, ou poder conhecer a história e os porquês das nossas dúvidas?

Facilmente concluí que a palavra possui uma enorme importância no funcionamento da mente, pois quando descrevemos detalhes do que falamos, relatando algo acontecido, nos achamos não somente realizados, mas aptos a transformar em única a experiência vivida, tornando-a inesquecível.

E assim aconteceu... dias atrás, visitei um restaurante com sede em rústica casa de fazenda no povoado de Tangil, localizado entre Viçosa e Mar Vermelho, cidades tidas como “Atenas” e “Suíça” alagoana, respectivamente.

Conhecido por Trapiá, possuidor de cardápio de iguarias integralmente preparado por seu proprietário, um realizado homem de negócios, estudioso de gastronomia, verdadeiro gentleman que em cada dialogo mantido com seus clientes, deixa transparecer que antes de mais nada, o sabor da vida depende de quem a tempera. Esse cidadão é Elias Vilela de Vasconcelos.

No início da tarde de sexta feira, acompanhado por familiares, ao ocupar uma das mesas do Trapiá, imediatamente compreendi a existência de algo invisível encantando o ambiente, pois facilmente notei que a minha alma haveria de usufruir daquele momento, eternizando-o.

Ao responder questionamento que fiz a respeito da identificação do local, Elias Vasconcelos explicou que Trapiá é uma elegante árvore existente em sua propriedade, a copa é arredondada, o tronco tortuoso, cilíndrico, de coloração creme, cuja madeira é bastante recomendada na confecção de excelentes utensílios de cozinha, tendo inclusive me apresentado colheres de pau, conchas e outros artefatos, por ele mesmo preparados há quase duas décadas, que permanecem como se novos fossem.

Naquele instante, ao absorver o significado da palavra, entendi que para Elias Vasconcelos, cozinhar não é uma obrigação ou somente um negócio financeiro, mas acima de tudo um ato de amor.

Ao término da experiência gastronômica inesquecível, aprendi que Trapiá e Elias, se confundem em peça única.

Restou a certeza de que aquele ambiente poderia ser tido como um pedaço do céu, com nome, cor, tamanho, cheiros, um lugar onde o lucro é secundário se comparado ao valor do sorriso dos que ali trabalham, pessoas ante as quais pude me considerar gente e para mim as senti mais gente ainda, que ofereceram hospitalidade fazendo aumentar a minha humanidade.

Por outro lado, Elias Vasconcelos, com sua voz grave quase de tenor, um mago da culinária é o exemplo vivo de que cozinhar é como tecer um delicado manto de aromas, cores, sabores, texturas. Uma sempre especial mantilha divina que se deitará sobre o paladar de alguém, para que no final, os cinco sentidos o aplaudam de pé.

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