A água e o rio de cada um

Crônicas

Lúcia Nobre

Cada um tem um rio em sua vida. Rio para toda vida, rio passageiro, rio que permanece, rio que vira riachinho e depois vai embora, como na história de Manuelzão e Miguilim. Para o sertanejo, o rio é música para o ouvido. Quando falta, é como se silenciasse a sinfonia. Aí, adeus concerto. Em uma cidadezinha, todos estavam acostumados a dormir ao som da toada do rio. Certa noite aconteceu uma tragédia. O rio secou e todos sentiram falta de sua sonoridade musical. Acordaram e foram à procura do que não mais existia. De certo uma tragédia. A comunidade amanheceu aflita. Estaria em qualquer lugar o riachinho que fazia parte de sua vida. Queria ver o ser do riachinho, para água de verdade e ele se fora. Antes de o riachinho sumir, a água dali corria fria. E os sapos cantavam de boca-da-noite até à meia- noite: “Água só...! Água só...!”. Sente-se saudade do rio ou do riachinho que fez barulho e se tornou música para os ouvidos sensíveis. Qual o santanense que não se alegra quando o nosso rio Ipanema canta sua música? Quem não corre para vê-lo transbordando ou já se manifestando de tamanha beleza? O barulho das águas mistura-se ao vai-e- vem das pessoas que se dirigem ao espetáculo. Adultos e crianças, com a mesma euforia, comemoram. Santanenses bebem do mesmo rio. Saboreiam sua água salobra e se tornam amantes fervorosos de sua terra natal.

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