A SOCA TEMPERO DE EVERALDO

Crônicas

Remi Bastos Silva

Decorriam os anos 60 em Santana, as três diversões que os meninos maloqueiros do Monumento mais gostavam de praticar eram: jogar bola e ximbra, caçar e tomar banho no “Panema”.

Geralmente, as minhas caçadas se verificavam com peteca, pois, não tinha como adquirir uma espingarda. Naquela época, apenas dois amigos participavam assiduamente das nossas brincadeiras, Benedito Soares e Everaldo de Seu Oscar.

Certa vez Everaldo ganhou de seu pai uma linda espingarda soca tempero. Nós estávamos de mal, através da velha expressão muito comum entre os meninos daqueles dias: favor não falar mais em meu nome. Dois dias depois eu escutei o Everaldo dizer para o Carlos de Dona Nide (o Carlão), bem em frente da minha casa: Carlão vamos caçar? Da brecha da porta eu pude observar o amigo com uma espingarda e um bornal com a foto do Padre Cícero na frente, recheado de munições.

Sabendo que a caçada seria no cercado de Seu “Zé Ilía”, rapidamente peguei minha peteca e o bornal com algumas pedras e saí pelo quintal direto para o cercado de Seu Zé Ilía. Fiquei escondido em uma moita de catingueira, ainda matei uma rolinha. Everaldo acompanhado do Carlão exibia o seu traje: botas com coturno, uma faca de caçador à cintura, um boné e um binóculo atrelado ao pescoço, além da bela espingarda, parecia um Rei Persa.

O seu primeiro tiro foi em um caga sebo, bem próximo a moita onde eu estava. O Carlão colocou os dedos nos ouvidos de tão forte foi o estampido. Errou o tiro, mas, joguei a rolinha que havia matado nos peitos do amigo, que acreditou ter acertado. Disse até uma frase: “Hoje a caçada está pra mim, atirei num caga sebo e acertei numa rolinha! Foi quando eu me apresentei com a peteca em posição de atirar. Ainda falei, pensei que fosse uma rolinha. Nesse momento fizemos as pazes e, a partir dai, tomei posse da espingarda.

Sempre nos carregos para Everaldo atirar eu colocava apenas bucha e pólvora, nada de chumbo. De tanto errar os tiros, eu disse, essa espingarda só tem boniteza, ela está azogada. Não deu outra, Everaldo perguntou: “quéis pra tu”? Concluindo, praticamente fiquei com a espingarda, e todas as vezes que íamos caçar eu dava uma peteca cheia de calor de figo ao amigo. Vez por outra a borracha se partia e Everaldo tomava uma pancada do gancho no sovaco ou no queixo.

Everaldo, você e outros amigos fazem parte do meu álbum das histórias vividas em nossa adolescência e juventude. Tudo isso consta como uma prova de quanto éramos felizes. Um Grande Abraço.

Aracaju, 25.06.2021.

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