À BEIRA DE UM COLAPSO? O QUE ESPERAR DA NOSSA CIVILIZAÇÃO?

Reflexões

Por Padre Adauto Alves Vieira

Numa sociedade, quando grossas persianas cercam as janelas de nossos olhos, passamos a vislumbrar somente os nossos interesses, e assim, como que cegos, tornamo-nos seres por demais solipsos ou narcisistas, por assim dizer. Daí, vamos perdendo o nosso senso de justiça, de misericórdia. Já não existe altruísmo. Já não sabemos pensar mais no bem dos nossos semelhantes. Vamos nos inchando em nosso egoísmo, portando conosco a medida do ter que nunca se completa. Assim no suceder dos fatos e dos acontecimentos, vamos assistindo aos poucos o declínio da nossa civilização cujo tecido que a compõe cada vez mais tende a necrosar-se de dia para dia. Portanto, o fim de uma civilização ou sociedade que desta forma se porta é o tanatós, isto é, o arruinar-se a si própria, a morte, enfim.

É notório e lamentável, mas no quotidiano vai surgindo em nosso contexto uma anticultura eivada de contra valores, na qual vai predominando a "ditadura do relativismo". Aos poucos ascende-se uma política e uma economia que tentam firmar-se num reino falimentar, apoiados em tronos de argila, que um dia hão de ruir e sucumbir. Hão de sucumbir sim, pois numa sociedade onde se vira as costas para Deus, o ser humano vai se tornando cada vez mais mesquinho e perverso. Assim sendo, constatamos o despontar de um anti-humanismo cada vez mais crescente, porque em nossos horizontes não há mais a luz da Palavra de Deus, não há mais o esplendor do sol da justiça, não há mais o fulgor da glória de Deus nas mentes e nos corações dos homens. Faltando-nos a luz, caminharemos sempre errantes, como os nautas perdidos em alto mar, desprovidos de bússola que os nortearia, fazendo-os chegar ao seu destino.

O caminho para um verdadeiro humanismo estará no conhecimento e na adesão a Jesus Cristo e à luz da sua Palavra. Somente Cristo e a luz da sua Palavra, serão capazes de nortear a humanidade por caminhos seguros, retos e verdadeiros, pois Ele é o "Caminho, a Verdade, e a Vida". Cristo é o homem perfeito capaz de "manifestar plenamente o homem ao próprio homem e lhe fazer descobrir a sua altíssima vocação" ( Gaudivm et Spes, 22).

Aderindo a Cristo, vamos nos redescobrindo como irmãos, Cristo aproxima o homem dos homens, por ser a Senda para o Pai de todos os homens. Como o Pai é amor, Cristo torna-se o Caminho para o amor, conduzindo o ser humano a amar Pai e filhos, redescobrindo-nos assim como irmãos, como pertencendo à mesma família, a família dos filhos de Deus.

Quando descobrimos Cristo e a Ele aderimos, seremos capazes de derrubar os muros das divisões, destruir as barreiras que foram erguidas pelo ódio, e assim, anunciar o fim de um mundo velho marcado por tantas dores e tantos horrores.

Que sobre os escombros deste mundo caduco e transitório, possamos erguer um mundo novo sem fronteiras, sem cobiça, sem arrivismo, contudo, totalmente aberto à novidade do Reino trazido e inaugurado por Cristo! Que a realidade deste Reino inaugurado e trazido por Cristo se dê num coração cada vez mais aberto à conversão! Que do coração de cada homem e mulher de boa vontade, este Reino possa esparramar-se para o coração de toda a humanidade!

Que tudo isto não seja somente um augúrio, mas que seja sim uma realidade capaz de eivar, urgentemente, o escrínio de todos nós!

Que o Senhor possa mostrar a esta pobre humanidade errante os seus caminhos! Que a sua Verdade a oriente e a conduza até Àquele que é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim de todas coisas! (Sl 24, 4-5; Ap 22, 13).


Padre Adauto Alves Vieira

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