Era uma vez um bodinho chamado Bilu, seu dono o criou como se fosse um animal de estimação, assim com o gato e o cão. Para todos os lugares que ia sempre levava o Bilu consigo, “era Bilu pra cá Bilu Pra lá”. O feliz animalzinho levava vida de rei bode. Todas as manhãs quando o sol despontava na serra, Bilu já estava atento apascentando o gado para o curral. A sua cor branca e astúcia escondia a condição de caprino, muitos que o conheciam atribuíam-lhe a confiança de um canídeo, as únicas diferenças recaiam sobre as vozes e os chifres. O Sítio Velande do fazendeiro Bené Auriano respirava os ares da felicidade, pois, tudo se completava com as espertezas do bodinho Bilu. Certa vez os dois filhos do fazendeiro e proprietário do Bilu, Jambu e Bocoió levaram Bilu a uma vaquejada no Serrote da Pinta, na Fazenda Cachoeirinha, município de Maravilha. Era uma pegada de boi na caatinga, muitos fazendeiros vieram de vários Estados para caçar e derrubar o Boi Tatá, conhecido como o “barbatão” indomável. Pois bem, a festa estava animada, as ruas de Maravilha estavam empilhadas de vaqueiros em trajes típicos bebendo e fazendo aboios que ecoavam nas encostas da serra. Jambu, Bocoió e Bilu faziam parte dos convivas da grande festa que se estendia por três dias. O ponto alto era justamente a pegada do Boi Tatá, que cairia no domingo, após o baile com trajes típicos realizado no armazém de Seu Paizinho, no sábado. Zé Coiti o sanfoneiro conhecido na região, animava o baile vaqueral que se estendeu até as primeiras horas do canto do galo. Às dez horas do domingo as movimentações de vaqueiros e assistentes tomavam conta da Fazenda Cachoeirinha. O prefeito da cidade, Grandinho da Maravilha recebia a todos em sua casa na fazenda, com latões da caninha Pitu e tira-gostos variáveis. Eis que de repente chegam montados em suas jeguinhas, Xigoga e Pocotó, atrelados ao bodinho Bilu, eles, Jambu e Bocoió trazendo em suas mãos duas garrafas de aguardente Galo Negro. Ambos cumprimentaram o chefe municipal, ao tempo em que aceitaram mais uma. Logo iniciaria a pegada de boi no Serrote da Pinta. Apenas dez concorrentes compareceram ao local da competição e entre eles estavam os nossos heróis, Jambu, Bocoió e o bodinho Bilu. Os demais participantes não tiveram condições de compartilhar da pegada do Boi Tatá devido o excesso de bebidas no baile do sábado. Inicia a corrida na caçada do temível “barbatão”, os vaqueiros tomaram destinos diferentes, enfrentando os madacarus, faixeiros, urtigas, catingueiras e macambiras. Três horas depois retornaram apenas os cavalos sem seus montadores. Chegaram um, dois, três, quatro, etc., mas sem resposta do Boi Tatá. Faltava somente retornar o Jambu, Bocoió e o bodinho Bilu. Já ao entardecer algo se movimenta por trás de um juazeiro, a expectativa de todos ali presentes era grande, quando surge por entre a vegetação seca, o Boi Tatá montado por Jambu e Bocoió, bêbados, e puxado por Bilu tendo uma das extremidades de uma corda presa aos seus chifres e a outra ao pescoço do Boi. Foi grande a alegria. O bodinho Bilu foi aplaudido com honras de um bodinho valente. A festa se encerrou com mais um baile, desta vez na Fazenda Cachoeirinha com muita bebida, dança e foguetes. Depois de alguns anos tomamos conhecimento que o bodinho Bilu havia sido doado pelo filho de Grego Décio, o Xiran ao fazendeiro do Povoado Velande, Bené Auriano.
“Entrou por uma perna de pinto, saiu por uma perna de pato, Senhor Rei mandou dizer que contasse mais quatro”.
Aracaju/SE, 10/02/2014.
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