UNIÃO POR INTERESSE

Contos

por Maria Aparecida Silva dos Santos

Ela tinha dezessete anos de idade e ele já tinha mais de setenta. Não foi um caso de paixão, mas seria uma união por interesse. A moça vivia num sistema de cárcere sem sair de casa para nenhum lugar. Seu pai era cuidadoso demais, temia ver sua filha mal falada.
Vestida de chita azul, pés descalços, cabelos lisos, longos, soltos ao vento, vinha trazendo água num balde meio rachado dos lados, molhando o seu vestido que ligava ao corpo esbelto e curvado, quando dois homens avistam aquele deslumbre de mulher. Os dois, um bem jovem e o outro já idoso, param e ficam apreciando os passos leves e vergonhosos da moça quase despida pelo tecido molhado que colou ao seu corpo. A jovem segue o seu caminho.
Os homens apaixonados procuraram saber de quem era filha aquele tesouro que acabara de ser descoberto. Nenhum dos dois comentou ao outro sobre o interesse que nascera pela jovem. O mais novo procurou se encontrar outras vezes com a moça. Então, foi à beira do rio no mesmo horário que a encontrara pela primeira vez.
Que sorte! A moça chega, levanta um pouco o vestido deixando aparecer partes das pernas delineadas, um pouco queimada pelo sol, abaixa-se e começa a encher o balde. De repente, quando vê o rapaz tenta fugir. Mas o jovem fala, apressadamente, que ela não precisaria ter medo; pois ele jamais lhe faria mal algum. Foi uma conversa galgada em poucas palavras. O medo de ser vista conversando com alguém era maior que o seu interesse pelo amor que nascia pela primeira vez, entre o jovem João e a bela Maria Clara.
O casal continuou se encontrando nesse mesmo lugar todos os dias. A cada dia a paixão ia crescendo, parecia estar tamanho do mundo. O rapaz queria falar com o pai da moça, mas ela não permitia; tinha medo que o pai não aceitasse. Então, sempre pedia mais um tempo.
Enquanto isso, o homem de mais de setenta anos, o senhor Joaquim, um viúvo ricaço do sertão, já estava marcando o casamento com a jovem. Uma negociação de interesse entre o pai da menina e aquele senhor apaixonado.
Certo dia, o pai chamou sua filha e deu-lhe a notícia:
– Você vai se casar!
Foi um choque; talvez uma descarga elétrica não causasse tanto dano quanto aquela novidade inesperada.
Desespero, repúdio, foi o que a menina sentiu quando soube o nome do noivo: Senhor Joaquim, aquele velho que ela encontrara junto ao rapaz, noutro dia. Também, nunca imaginava que isso poderia acontecer.
A jovem tentou fugir desse compromisso, mas o seu pai não permitiu. Queria ver a sua filha bem casada. Essa era a melhor oportunidade.
Os preparativos do casamento começaram. A tristeza da moça era percebível.
O jovem João soube que sua amada iria se casar com outro. Então, conseguiu marcar um encontro com Maria Clara; sua intenção era fugir com ela no dia do casamento.
Vestida de noiva, o véu arrastando na areia e se prendendo nos carrapichos da estrada, vinha Maria Clara correndo para os braços do seu amor verdadeiro. João a espera ansioso. Mas, o pai da moça foi avisado da fuga. Antes que a menina chegasse ao local combinado, seu pai a alcançou. Sem dizer uma palavra, pegou-lhe pelos braços com brutalidade e a levou até a carruagem. Seguiram para a igreja. Nenhuma palavra, somente soluços, lágrimas escorrendo que molhava seu rosto desconsolado e seu colo palpitante.
O rapaz a esperava desesperado, arrumando a cela do cavalo, que parecia entortar a cada minuto de espera. Quando percebeu que a fuga fracassou, puxou as rédeas do animal e cavalgou sem enxergar o caminho comprido e tortuoso.
João chegou à porta da igreja, pulou do cavalo e entrou gritando:
– Esse casamento não pode acontecer! Maria Clara é o amor da minha vida.
Nessa hora não se sabe o que pode acontecer. No altar estava o velho Joaquim, homem valente e destemido, não permitiria traição. O pai da moça, um homem de comportamento tradicional arcaico; para ele palavra é Lei.
João aproxima-se do altar. O pai da noiva saca uma arma. Maria Clara corre ao encontro do jovem para impedir que nada lhe aconteça.
A arma poderá ser disparada e Maria Clara pode ser atingida.
Mas não foi isso que aconteceu. Maria Clara saiu da igreja casada.
E o que aconteceu com João? O que fez o noivo Joaquim diante dessa situação conflituosa?
O senhor Joaquim, noivo da moça, quando viu o rapaz correndo perigo de vida, abraçou o jovem e o trouxe ao altar. João era o filho mais novo de Joaquim. Nem o pai nem o filho estavam sabendo que se apaixonaram pela mesma mulher.

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