MONÓLOGO: Caminho das águas

Crônicas

Remi Bastos

Sou tão ligado ao Rio Ipanema, quanto as tuas areias e pedras. Mesmo no silêncio do canto de tuas águas, dos remansos, das corredeiras e do lago do Poço do Juá, consigo através do meu consciente, reprisar os teus dias de glória. Ah! Meu velho rio foste a piscina natural onde aprendi brincar e nadar no caminho das tuas águas calmas e traiçoeiras. Lembro-me também das pescarias com litro e anzol; das canoas operando nos dias de feira e do seu gingado cortando a correnteza. Lembro-me ainda do atrevimento do Nego Zé Lima e do moleque Messias desafiando a tua valentia no Poço dos Homens. Como era lindo, mas, temeroso, assistir o passeio das tuas águas valentes do alto da Ponte do Padre; de ouvir os ribeirinhos anunciarem correndo pelas tuas margens, “O Panema vem com água”. O santanense logo passaria a anfitrião das tuas cheias, tendo como mirantes a Barragem e a Ponte o Padre. No entanto, tantas vezes silenciei no teu silêncio e sorri na tua alegria. Sabe de uma coisa meu rio, é segredo! Mas, estão fazendo de ti depósito de lixo, ninho de roedores e passarela de catartídeos. Os esgotos a céu aberto desaguam no teu leito resíduo tóxico e contaminante exalando um cheiro fétido. Certa vez anunciaram através das emissoras de radio locais, de que um movimento levantado por uma entidade comercial iria desenvolver um trabalho conjunto com o objetivo de perenizar as tuas águas. Mas confesso meu velho rio, tudo ficou apenas na palavra, e novamente te relegaram ao desprezo. Hoje da sacada deste Restaurante e Bar onde me encontro, contemplo com tristeza o menosprezo que retratas sem que nada eu possa fazer, apenas juntar as tuas águas às minhas lágrimas.

Aracaju,/SE, 31/12/2013

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