REENCONTROS ENTRETANTOS

Crônicas

Luiz Antônio de Farias, capiá

Acabo de ler “Reencontros Entretantos”, da escritora Lúcia Nobre. Sem dúvida, um excelente trabalho. A brilhante definição sobre a arte de escrever, narrada na contracapa do livro, define a capacidade arguta e o senso observacional da autora.

A apresentação formulada pelo competente Malta Neto define, com propriedade ímpar e intuitiva eloqüência, – características que lhes são próprias – o real valor da obra.

A busca incessante de inspiração, no dia a dia da escritora, é a forma de expressar a sua literatura com a finalidade de atingir o leitor, seu alvo pretendido. Com muita propriedade ela faz ver que “a história não é uma máquina de calcular” e enaltece a preservação das raízes, mas alerta sobre a necessidade de caracterizar a relação entre o passado, o presente e o futuro, que são fatores independentes mas, ao mesmo tempo, aglutináveis. Para demonstrar a magia da palavra seja ela escrita, falada, ou cantada (e, por extensão, televisada), ela busca vários autores, com a intenção de asseverar sua importância.

Fiz uma volta ao passado quando o nosso poeta-maior, Remi Bastos, descreveu com riqueza de detalhes – como se dela participara – a infância feliz da “Menina do Batatal”, onde enfatiza o sentimento de liberdade proporcionado pelos tempos de outrora, às crianças de então.

A escritora não esqueceu as justas homenagens a dona Marina Marques e à diretora Maria Audite Wanderley, um exemplo de mestra – no sentido mais amplo da palavra – da qual tive a honra de ter sido aluno, no meu velho e querido casarão, Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Continuando a “sessão” nostálgica Lúcia descreveu as alegrias proporcionadas pela Festa da Juventude, uma iniciativa dos jovens da época, que perdura até os dias de hoje.

Uma menção que ”balançou” meu espírito saudosista foi com relação às “histórias de trancoso”, que faziam parte da cultura vigorante, que o advento da TV surrupiou dos meninos de hoje, deixando-os órfãos dessa manifestação tão importante.

Não se descuidou em deixar de homenagear seus familiares, em prosa e verso, que foram fundamentais na vida da escritora, valendo enaltecer o “xodó” particular que dispensava ao tio Tonho, nada obstante o carinho que dispensava a todos os demais, preponderantemente a tio Pedro, um herói de guerra. Vale ressaltar, em particular, a justa homenagem prestada a tia Nin, pela disponibilidade, dedicação e boa vontade, sempre demonstradas.

O vínculo com o Colégio São José demonstra sua gratidão ao educandário que fez parte de sua vida e que direcionou suas filhas para a absorção dos conhecimentos adquiridos. “Uma boa árvore dá bons frutos”.

Mesmo dentro do seu espírito “nobre e pacífico” procurou externar seu repúdio e sua revolta à maneira de como os responsáveis pelo poder tratam o ensino, de uma forma geral, e particularmente o básico, podendo dizimar a esperança do futuro de nossas crianças e da nação, por extensão.

Despertou minha atenção algumas crônicas aparentemente de natureza ficcionais que remetem nossa memória a fazer associação com fatos que acontecem na vida real.

Além enaltecer nossa querida terra, fazendo ressuscitar figuras como Zabé Brincão, deu um arremate final, em grande estilo, com a crônica “O Mundo é Mágico e Mágico Porque é Real”, que retrata a realidade encarnada e esculpida de todos nós filhos da terra de nossa Excelsa Padroeira Senhora Santana.

Obrigado, minha escritora.

Salvador, Natal de 2013

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