Imerídio ou simplesmente “Seu Merídio” como era conhecido por todos de sua vizinhança, foi um homem sonhador que tinha como inspiração a própria vida.
Criatura humilde, filho de pais analfabetos desprivilegiados do saber que viam na enxada o instrumento capaz de arquitetar a fartura para o sustento da família.
Apesar do ambiente cultural desconhecido em que vivia, Seu Merídio administrava um conhecimento extraído de sua mente profícua. Costumava dizer que a realidade era o retorno de um sonho e o sofrimento o salário do pecado.
O sábio e pequeno senhor desconhecido da leitura fez de seus dias ama grande escola e buscou nela a chave do conhecimento, era um verdadeiro autodidata. Toda a sua vida foi ensaiada e dramatizada no palco das terras incansáveis da Fazenda Laje Grande, às margens do Rio Ipanema no sertão das Alagoas.
Seu Merídio costumava ao entardecer sentar-se a um banco de baraúna no alpendre da velha casa entremeada de taipa e alvenaria, onde passava horas contemplando o firmamento.
Admirava a lua e as estrelas tremeluzentes no espaço infinito e para cada uma tinha uma história a contar. Dizia que o céu esconde um mistério que o homem jamais desvendará por completo, e ai daquele que entrar no terreno de Deus sem que seja convidado por Ele. O homem é o limite da vida; o único homem que morreu e retornou à vida foi Cristo, portanto, o choro da morte e da tristeza fenece com o sorriso da alegria, dizia o pequeno sábio.
Certo dia quando se banhava nas águas do rio Ipanema, como costumava fazer nos finais de semana desde os tempos de menino; pescar traíras, mandis amarelos e piabas, observou que sua rede já não subia mais pesada como antes e com o passar dos anos viu o seu rio se encurtar, sedento, morrendo lentamente, as suas águas já não fluíam cristalinas como no passado.
Seu Merídio entristecido foi acometido de um mal, recolheu-se a sua humilde casa e solitário em seu mundo chorou pela última vez.
Suas lágrimas puras como a brancura das brumas banhavam seu rosto, ao tempo em que reprisava através do pensamento toda a felicidade que viveu e sentiu, estava chegando ao limite da vida, morreu sorrindo afugentando a tristeza como tanto queria.
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