Tardes da minha terra que vivi e chorei

Poemas

Remi Bastos

O vento assanha a poeira
Tecendo torvelinhos na estrada.
À distância tudo treme aos olhos sofridos
- Os barreiros já não choram as suas águas.
Assustados os preás recolhem-se à macambira
Fugindo da mira certeira do político impiedoso.

Nos galhos secos dos faveleiros as ribaçãs repousam a promessa,
Enquanto o sol declina lentamente no horizonte
Deixando para trás o véu da tristeza.
Tudo pára e adormece na inquietude do sertanejo,
Nada cresce nada se renova,
Apenas o tempo prolonga o sofrimento contido nas promessas
Transformando o cenário em janelas de melancolia.

Tardes de minha terra que vivi e chorei,
Que sonhei os sonhos da verdade e do verde,
Que acreditei na esperança dos prometidos
Sopradas nos palanques, nas emergências efêmeras
E nos abraços fingidos e traiçoeiros.

Tardes da minha terra que vivi e chorei,
Que mergulhei no infinito das quimeras,
Mas, não acordei nas asas da felicidade, apenas sonhei.
Assisti a chuva cair varrendo a misantropia,
Porém, não me banhei nas suas gotas,
Fugi em pensamento sem a coragem
De por os pés na estrada contornada
Pelos facheiros e mandacarus.
O silêncio da seca afogou a vegetação
E fez tombar o gado inocente,
Somente o malvado conseguiu banhar-se
Nas águas turvas que irrigam as suas torpezas.

Tardes de minha terra que vivi e chorei.

Remi Bastos
Aracaju/SE, 16/05/2013.

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