João e Maria, ainda crianças, ingressaram no curso primário e desde o primeiro olhar simpatizaram-se mutuamente.
Na escola, durante o recreio não se envolviam em brincadeiras, preferiam um papo prolongado. O tempo foi passando e a cada dia se gostavam mais. Terminaram o curso primário, ingressaram no ginásio e a amizade foi consolidada transformando-se em namoro. Os pais intervieram tentando convencê-los que naquela idade não deveriam se comprometer, todavia nada os fez desistir.
Terminando os cursos ginasiais ainda muito jovens, resolveram casar-se. Mais uma vez houve interferência dos pais, mas eles não desistiram da ideia. Como ainda eram adolescentes e não tinham a maior idade não conseguiram oficializar a vida a dois. Apelaram aos pais pelo consentimento e após muita luta e apelos dos tios, convenceram os velhos.
Casaram-se sem eira nem beira e julgaram-se realizados, arranjaram emprego com parentes na localidade e foram levando a vida. Após alguns meses Maria engravida do primeiro filho e comunica a João, concluindo que já é hora de pensarem em um negócio próprio. João tenta demovê-la do projeto, mas não consegue, pois Maria tinha em mente uma ideia fixa. Convidados por um parente para assistir a festa de Senhora Santana, não contaram conversa, aceitaram o convite de imediato. Chegaram à cidade e viram campos de agave não explorados, e logo veio a sugestão de Maria: “João, vamos pensar em vir morar nesta cidade e fabricaremos algum produto com fibra de agave, que não está sendo usado nesta região e já existe algum agricultor pensando em erradicar essa cultura por falta de comercialização”. João sempre medroso vacilou, procurou convencer Maria a desistir daqueles planos, todavia sua esposa não arredou o pé alegando que se em São José do Egito, sua cidade natal, muitas pessoas viviam bem com esse negócio, comprando a fibra por preço muito acima do que em Santana, por que não tentar?
Maria expôs sua sugestão ao parente e esse além de elogiar se comprometeu a dar todo o apoio necessário. Assim, o casal regressa a sua terra, vende o pouco que possui e vem morar definitivamente em Santana. O primeiro proprietário que visitaram para comprar agave lhes faz uma proposta: retirarem todo agave de sua terra e em troca ele queria apenas que deixassem o terreno desocupado. No dia seguinte chegaram com alguns trabalhadores e começaram a operação de retirada total daquela cultura, mediante acordo firmado. Fizeram um trabalho perfeito que deixou o proprietário satisfeito.
Começaram a comercialização após trinta dias e a venda fez sucesso, pois em todo estabelecimento comercial que chegavam, vendiam com facilidade; Maria, feliz da vida com o sucesso, só parava mesmo para alimentar-se e dormir. O negócio ia muito bem, mas apareceram queimaduras na pele de Maria, provocadas pelo sol inclemente da região, levando-a a consultar um médico a quem expôs o tipo de trabalho e a partir de então fora aconselhada a mudar de ramo. Após muitos dias sem dormir lhe veio a ideia de abrir um restaurante. Sua mãe lhe ensinara a cozinhar e era possível realizar o negócio planejado. Acatando a orientação do médico, em poucos dias alugou um prédio, equipou com tudo que se faz necessário e começou o negócio; mais um sucesso para a família. Como o prédio era tombado e uma parte superior estava desocupada, resolveram fazer um dormitório e não teve dificuldade com o proprietário. Maria era dotada de um carisma extraordinário, fazia amizade muito fácil e atendia a todos com amabilidade e um sorriso nos lábios que atraiam as pessoas.
Após alguns anos, sentiu-se cansada daquela luta entre dezesseis e dezoito horas por dia. Falou com João para mudar para uma loja de eletrodomésticos e, como sempre, João temia um novo negócio, mas Maria não desistiu, e de uma hora para outra vendeu o restaurante e começou a investir em móveis e eletrodomésticos; como as outras mudanças, houve triunfo total. Os clientes do antigo restaurante prestigiaram-na em seu novo empreendimento.
Com alguns dos filhos na idade de estudos, procuraram um meio que oferecesse melhores condições de ensino. Maria comenta com João sua ideia de transferir seu negócio para Maceió, mais uma vez, João se apavora com os planos e tenta desestimular Maria.
Nesse período Maria descobre que está sendo traída por seu esposo e se desespera. Passa a dormir pouco depois da descoberta que lhe tirara o sossego. Descobre até que a mulher se chamava Odete. Procura convencer o marido que estava pulando a cerca e não queria deixar seu novo amor a ir embora para outro lugar, mas não teve êxito. Uma bela tarde Maria recebeu a visita de Carminha, amiga de infância da amante de João, que fora ver um bebê ganho pela amiga, e lá chegando a encontrara em uma pobreza de cortar o coração: o bebezinho dormindo em um moisés usado, quase nu, sem cama, nem mesa, sofá, ou cadeira na cozinha, apenas três panelinhas faziam todos os pertences da casa. No quarto de dormir um colchão de capim onde o casal se encontrava. Carminha não se conteve e disse a Maria que havia visitado uma amiga que mantinha relacionamento com um homem casado e o quadro que presenciou era este acima. Maria que tinha um coração generoso disse a Carminha que sua exposição parecia um conto de fadas e relutava em acreditar naquela história. Carminha aproveitou a emoção de Maria e disse que naquele quadro tétrico também se encontrava a figura do seu esposo.
Maria, com a calma de uma santa, pede a Carminha para acompanhá-la até a casa de Odete. Ao chegar ao destino, não conteve a emoção e confessou quem realmente era, deixando Odete temerosa. Notando sua preocupação, Maria aconselhou que ela não temesse, pois a partir daquele momento ela teria ao seu lado uma protetora. Regressou a uma loja onde carregou um carro de entregas com tudo necessário a uma casa e mandou entregar a Odete, inclusive louças e talheres. Ao chegar à noite para a visita à companheira, João quase sofrera um ataque ao ver a casa mobiliada. Antes mesmo que ele perguntasse, a companheira relatou o que acontecera. Naquele momento João desejava entrar de chão adentro, pensava mil coisas, perdendo toda a alegria da visita. Pensou em ir embora, pensou até em morrer. Indagou a Odete como se deu o encontro, inclusive se não houve provocações ou agressões por parte de sua esposa. A amante relatou ter sido tratada com respeito e zelo, apesar de toda a situação constrangedora. Aproveitou para alertá-lo de que, possivelmente tivesse problemas em casa mediante o ocorrido, deixando João a vontade para decidir se voltaria ou não a visitá-la, contanto que a ajudasse a criar o filho.
Não restando outra saída, João procura a esposa, envergonhado, mas para sua surpresa fora recebido com naturalidade. Maria o tranquilizou dizendo que ele não se preocupasse, pois o que fez foi para limpar seu nome na comunidade, pois por morar em cidade pequena onde todo mundo se conhece , não queria ser alvo de comentários. Ainda no decorrer da conversa Maria reconhece estar envelhecida e não corresponder aos desejos do esposo. Compreende a traição ocorrida e promete que nunca deixará de amá-lo.
Como se aproximara as bodas de prata do casal, os filhos se reuniram e comunicaram a Maria o desejo de comemorar a data com uma festa como sempre ocorria, mas ela agradeceu aos filhos, não concordando com a ideia, pois em seu modo de ver não havia motivos para essa comemoração, uma vez que João não havia sido sincero com ela ao compromisso assumido aos pés do altar de Deus. Maria afirmou Jamais ser capaz de desistir ou perder o amor que proporcionara ao esposo, pois só a morte os separaria.
Hoje, após tantos anos juntos, João e Maria escolheram um cantinho em uma bela praia de nosso litoral e desfrutam de um ambiente sadio, onde nos fins de semana reúnem filhos e netos, noras e genros para aquele encontro familiar onde reina a paz e a harmonia.
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